Muita gente observa que nossa língua portuguesa é pobre por ter apenas uma palavra para descrever o amor. Não há diferença entre o que chamamos de amar um cônjuge, amar um parente ou amar um amigo. Tudo é amor. Se, por um lado, isso não nos abre para perceber as complexidades do verbo amar, por outro, isso acaba simplificando tudo em uma só palavra. E a simplicidade fala por si só.
Embora a palavra grega
ágape fosse rara na literatura da Grécia antiga, os primeiros cristãos adotaram-na para designar um amor que se diferencia especialmente de
eros — “amor de desejo” — e também de
filia — “simpatia natural” ou “afeto mútuo”. Portanto, já no início do cristianismo havia uma preocupação em comunicar o que é o amor através de uma só palavra.
Observem os três primeiros versículos de I Coríntios 13. Todos começam marcados principalmente por uma palavra:
ainda. O escritor Paulo utiliza este advérbio como recurso para construir orações condicionais que trazem à baila as maiores preocupações do público para o qual ele está falando. Através de maravilhosas cadências, estas orações produziam um efeito dramático no idioma dos ouvintes. Todavia, tudo aquilo que enchia a cabeça daquelas pessoas, por mais surpreendente que fosse, se rendia diante da simplicidade do amor.
O discurso do amor é simples, porque o amor é simples. Se há amor, não nos preocupemos muito com o que dizer, pois o amor fala por nós. A fala é mais agente do que paciente. Ou seja, as nossas ações dão vero testemunho de quem somos. Por isso, não adianta se preocupar com o que fazer e com o que não fazer, pois ainda que façamos tudo o que deveria ser feito, o amor continuará sendo mais importante.
Amar não é obrigatoriedade, mas é espontaneidade. Se for obrigação, já não é amor. Quando Jesus fala sobre o amar a Deus e ao próximo como mandamento, ele está relativizando a própria noção de mandamento. Ou seja, não temos que nos preocupar em como amar, pois a nossa vida já é amar. Amar não é imperativo, é constatativo (sic). Ou vocês amam, ou não amam. A realidade está aí dentro de vocês. O amor já existe aí, na vida, em cujo campo fértil há apenas uma sementinha pronta para crescer e dar muitos frutos. Amor é simples assim, podendo até ser descrito em uma simples palavra. E por ser simples já diz muito.
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