17.4.07

A substância católica e o princípio protestante

A percepção do pensador alemão Paul Tillich (1886-1965) sobre substância católica remete à sua peculiar interpretação do sacramento como universal, o que significa que há uma universalidade do fenômeno religioso inerente ao ser humano. Neste sentido, a mente humana é um sacramento onde o divino aparece, sendo assim qualquer expressão de fé legítima por constituir uma característica própria do relacionamento entre ser humano e sua busca por um sentido último de sua existência. Aqui se configura a principal contribuição do pensamento tillichiano sobre substância católica para o diálogo interreligioso, sobretudo, quando se considera como importante todas as expressões religiosas, pois todas partem — e nascem — da mesma necessidade existencial para o encontro com o divino. Haveria, portanto, um princípio de universalidade da fé, que permite a todas as religiões serem vistas como expressões autênticas da experiência religiosa. É substância porque faz parte do conteúdo religioso. É católica porque é inerentemente universal a todas as expressões de fé.

Tillich, no entanto, alerta para o risco de uma destas religiões se pretender como única detentora da revelação, que seria primordialmente universal e natural. Neste caso, o princípio protestante é fundamental no desenvolvimento do diálogo inter-religioso, principalmente por representar um valor iconoclasta de combater qualquer ameaça de idolatria entre as religiões. Nenhuma fé deveria ter o direito de excluir ou desconsiderar as outras manifestações religiosas, já que são congêneres e possuem o mesmo nascedouro existencial. O papel do princípio protestante é evitar a pretensão de cadeiras mais altas em uma mesa ecumênica, cujos membros precisam também praticar o espírito crítico dentro de seus respectivos âmbitos. Qualquer elevação de um aspecto da religião a um patamar de particularidade deve ser compreendida como um perigo idólatra. Por isso, deve ser um princípio protestar contra qualquer risco de uma exacerbação da substância católica — razão pela qual é protestante —, bem como de uma não consideração desta substância em decorrência da incapacidade de uma religião reconhecer como universais todas as outras religiões.

A rigor, levados até às últimas conseqüências, a substância católica e o princípio protestante não devem ser vistos como conceitos isolados, mormente por serem interdependentes. De um lado, a substância católica ao extremo poderia resultar em campo fértil para uma inevitável idolatria universal, onde todas as religiões poderiam ser entendidas como essencialmente corretas somente pelo fato de serem expressões de fé, gerando uma falta de crítica entre elas. De outro lado, o princípio protestante assumido única e radicalmente destrói toda propensão humana ao fenômeno religioso, levando conseqüentemente a um mero ateísmo ou frio moralismo. Por esta razão, a substância católica e o princípio protestante necessitam ser entendidos e praticados, no âmbito do encontro das religiões, em uma relação de interdependência. A conjunção “e” não deve ser abandonada, por ser o representante semântico dessa necessidade de coexistência de ambos os conceitos.

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7 Comentário(s):

  • At 17 de abril de 2007 às 20:56, Anonymous Anônimo said…

    Felipe,

    Gostei do teu comentário sobre meu texto de hoje. Mas, lembre-se, é apenas um texto curto e necessariamente provocador. Para um blog. Não é uma tese.

    Aliás, estou solteiro, mas adoro ficar casado: já me casei cinco ou seis vezes. E sou amigo de TODAS as minhas ex-mulheres. Porque sempre houve respeito entre nós.

    E liberdade, é claro!


    Depois retorno patra ler teu texto.

    Abraços, flores, estrelas..

     
  • At 18 de abril de 2007 às 10:18, Blogger Unknown said…

    Ola Felipe vim visitar-te, deixar-te um doce bjinho,
    Papoila Sonhadora,

     
  • At 18 de abril de 2007 às 21:02, Blogger Alysson Amorim said…

    Amigo,

    Você já havia comentado em meu blog sobre esta constribuição do Tillich a teologia, e inclusive indicado um texto que acabei não tendo a oportunidade ler (extenso demais!)

    Seu texto é didático.

    Parece-me que a coexistência de ambos, substância católica e princípio protestante, é uma condição para evitar, de um lado, a intolerância religiosa, e de outro, um universalismo idólatra.

    Atiçou meu interesse por Tillich. Aliás, o cara já consta em minha lista de futuras leituras.

    Abração.

     
  • At 19 de abril de 2007 às 10:12, Blogger Felipe Fanuel said…

    Caro Alysson
    Sim, a didática às vezes não faz mal. (rsrs) É isso aí! Vc disse em poucas palavras toda tese do Tillich. Vc vai gostar de lê-lo. Sugiro começar por um livrinho chamado A coragem de ser (Paz e Terra), mais filosófico, ou por outro A dinâmica da fé (Sinodal), mais teológico.

    No mais,
    Um forte abraço.


    Edson,
    Obrigado pelo esclarecimento.

    Papoila
    É bom ver-te aqui.

     
  • At 19 de abril de 2007 às 13:54, Blogger Andreia said…

    Olá!

    Um abraço para ti!

     
  • At 20 de abril de 2007 às 11:01, Blogger Felipe Fanuel said…

    Obrigado, Andreia!

     
  • At 17 de dezembro de 2009 às 22:22, Anonymous Anônimo said…

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