30.1.07

Criador, criatura e criação

A doutrina da criação é mais uma descrição da relação básica entre Deus e o mundo do que um relato sobre algo que aconteceu no passado, constituindo uma contínua resposta à pergunta implícita na criatura. Ao se pensar em criação, é preciso localizar as instâncias divina e humana no plano da origem, preservação e providência. Neste sentido, Criador e criatura são indissociáveis, pois "ser criatura significa estar enraizado no fundamento criativo da vida divina e, ao mesmo tempo, efetivar o próprio eu através da liberdade", ou seja, "a criação se plenifica na auto-realização da criatura". (Paul Tillich)

Ao contrário de quem entende que o Criador ordenou um mundo pronto e acabado, cabendo à criatura apenas fazer uso dele, percebe-se que seu projeto não foi nenhum senão o de dividir o processo de criação com sua própria criatura, dotando-a de habilidades próprias para tal. Assim, o fato de o ser humano perceber a necessidade de ser mantenedor do seu espaço revela o papel ativo dele também na preservação de toda criação.

Essa sua responsabilidade coloca o dedo na ferida do mal afamado senso de depredação da natureza — a criação —, cujo crime tem sido praticado pela humanidade ao longo dos anos contra seu próprio planeta. Infelizmente, este assunto entrou na agenda recentemente, sobretudo a partir do século XX, com a ocorrência de fenômenos extranaturais como o aquecimento global, a extinção de espécies da fauna e da flora, o desmatamento desenfreado, a provocação de um buraco na camada de ozônio, mais recentemente, as tsunamis, etc. Tudo o que fizermos, depois de tanto tempo, será para remediar o problema.

Precisamos entender que é dever do ser humano, como criatura — não apenas de Deus, como Criador — ser provedor de meios para a recuperação da sua atmosfera, principalmente porque ele é o principal responsável pela destruição da criação. É claro que providência é um traço eminentemente divino, mas é importante lembrar que a segurança na crença de um Deus provedor sempre é paradoxal, isto é, uma fé "apesar de", mostrando que aquele que crê é sempre aquele que age, e não espera sentado. A criatura tem, portanto, um papel ativo na responsabilidade criativa, preservativa e provedora do ambiente no qual está inserida. Ela é quem participa do projeto divino de criar, proteger e prover, a cujo objetivo serve em parceria com o seu Criador para o bem da criação.

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28.1.07

Um fracasso inspirador

O pintor holandês Vincent Willem Van Gogh (1853-1890) foi um fracasso em todos os sentidos enquanto esteve vivo. Tendo falhado na construção de uma família e de contatos socias, sequer foi capaz de custear a sua própria sobrevivência. Dessa maneira, acabou sendo marginalizado pela sociedade a ponto de sucumbir a uma doença mental. E a fama? Só veio depois de morto, após a exibição de suas obras em Paris. Justamente o público burguês, quem o havia desprezado, passou a apreciar o resultado de seu talento.

Post-scriptum: Esta imagem é "A Pair of Shoes", disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/imagem/go000002.jpg

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26.1.07

Sem Tom
Tom teria oitenta anos ontem.
Tom não há.
No ar
ainda há
um som
sem tom.

Bossa, que é uma aposta,
como nova no Brasil é posta.

Sem graça,
a mais cheia de graça
está.

E estará assim
enquanto o piano,
por mais um ano,
ficar sem tom enfim,
com som ruim,
sem som tupiniquim,
sem Tom Jobim.

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24.1.07

Teologia Metafórica

Partindo do pressuposto de que toda teologia é fundamentalmente metafórica, Sallie McFague propõe, em seu livro Modelos de Deus: teologia para uma era ecológica e nuclear (Paulus, 1996), um caminho diferenciado de se fazer teologia — e entendê-la — a partir de uma lente focada em construção de metáforas. As parábolas de Jesus são exemplos bíblicos de como se comunicar através de novas formas de linguagem, as quais já constituem um precioso arcabouço para a produção de uma teologia metafórica. Contudo, McFague alerta para o risco do uso atual de antigas e famigeradas metáforas oriundas de uma cultura patriarcal e monárquica, as quais constituem, para ela, o principal problema da teologia contemporânea. Sua sugestão é que se substitua criticamente tais conceitos por outros mais relevantes a uma era ecológica. Adentrar no universo parabólico do suposto discurso de Jesus no Novo Testamento é, neste sentido, ler e reler todo conteúdo metafórico ali presente de maneira a atualizar conceitos-chave para uma teologia relevante nos dias de hoje.

A proposta básica de substituição conceitual passa pelo crivo do entendimento do mundo como corpo de Deus, onde há uma relação íntima entre a divindade e o ser humano. Assim, propõe-se como crucial uma mudança na designação divina. Ao invés de visualizar Deus como "pai" ou "senhor", sugere-se os termos "mãe", "amante" e "amigo", os quais seriam mais coerentes com a necessidade atual de se integrar o divino e o ser humano. Uma teologia metafórica deve partir desta preocupação em lidar com os termos de maneira consciente das implicações de seu uso. O critério necessário é o de atualizar a mensagem da parábola com o rigor de evitar com que o significado seja alterado em detrimento do significante. Em outras palavras, desconfiar de conceitos marcadamente relacionados a uma cultura ou época diferentes de seus interlocutores, para os quais se está falando.

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20.1.07

O que é preciso para entrar no mercado de trabalho?

Nos dias de hoje, é comum observar uma certa ansiedade nas pessoas sobre o melhor preparo para encarar as exigências do mercado de trabalho. O fato é que não há fórmula que prescreva um caminho de sucesso válido para qualquer pessoa, causando frustração em muitos. O problema não está nas pessoas e sim no sistema, pois cada indivíduo possui uma habilidade específica cujo valor está além dos ditames de um mercado desumano, que seleciona quem quer a seu bel-prazer.

O que torna as pessoas ansiosas é esta prática de desqualificar aqueles que não estão no padrão exigido. As empresas controladoras deste mercado buscam homogeneidade onde há heterogeneidade, isto é, querem encontrar profissionais enquadrados em perfis pré-estabelecidos por elas mesmas ao contrário de interagirem com as características de cada contratado a fim de desenvolver um quadro de empregados mais livre e dinâmico. Os resultados seriam outros se o objetivo fosse agregar pessoas ao invés de selecioná-las.

No entanto, a realidade denuncia uma sociedade estruturada em prol de um inconsciente não-coletivo chamado mercado de trabalho, o qual funciona para favorecer a uns poucos detentores de uma herança jacente, legando ao restante a qualidade de párias, isto é, historicamente excluídos dos verdadeiros direitos sociais. Em outras palavras, quem não está inserido neste mercado não é capaz de viver dignamente.

Para entrar neste buraco negro, dominado por uma casta de senhores feudais, é preciso se vestir de uma capa artificial, transformando-se em alguém que você não é, vendendo suas melhores qualidades, conquistadas ao longo de um processo sócio-cultural da sua história de vida, por um preço de ninharia. Negar a se “prostituir” para o mercado de trabalho é suicídio. O jeito é vestir as roupas de que ele gosta, tornando-se o mais atraente possível para, quem sabe, alcançar o oportunismo de comer as migalhas que caem da mesa daqueles que comem muito bem não é de hoje.

13.1.07

A educação brasileira e os mesmos problemas de sempre

A visão de uma sociedade meramente capitalista gera na administração do país uma dependência do sistema em todos os níveis. Depender de uma estrutura frágil como é o capitalismo envolve todos os setores da sociedade em um ciclo vicioso, de cada vez mais pobreza para os mais pobres e riqueza para os mais ricos. Este fato coloca a economia como elemento mais importante na vivência humana, forjando uma colônia global, onde convivem dominadores e dominados, sustentando um gigante projeto suicida de um império baseado exclusivamente no capital. Todas as relações humanas estão destinadas a este fim, sobretudo, quando se observa em nações pobres como o Brasil, que possuem imensos problemas sociais, frutos do descaso e ambição dos países que se encontram no topo da pirâmide.

Embora este imperialismo capitalista pregue um ideal de uma sociedade globalizada, é visível que o nível de desigualdade torna-se superior ao desenvolvimento. Há pessoas vivendo na miséria, sofrendo com saúde precária, educação carente, desemprego, violência, enfim, há uma extensa lista de problemas públicos que neutralizam o desenvolvimento geral da população. O pior é que ninguém – governo algum – dá verdadeira atenção a esses problemas, quando alguns dão, viram apenas projetos no papel.

Quando se olha para a história brasileira, enxerga-se que estes problemas perduram dos tempos antigos até hoje, porém ainda não se trabalhou para se criar soluções, ao contrário, têm-se deixado crescer e gerar outros problemas para os tempos vindouros. Exemplo disso são as políticas públicas que não viabilizaram a integração do ex-escravo na sociedade, na época da transição para o Brasil República. Hoje se ignora da mesma forma essas políticas, quando continua a haver um crescente grupo excluído da sociedade, que tem gerado outros graves problemas, como o aumento da violência e do tráfico de drogas.

As instituições financeiras externas não foram feitas para pensar em ações sociais, antes, seu objetivo sempre foi financiar o projeto do capitalismo em volta do mundo. Tal empreendimento tem tido sucesso no Brasil, ao retirar dinheiro valioso recolhido de altos impostos de cidadãos trabalhadores que não são providos de assistência do governo em assuntos básicos como a educação. Em outras palavras, os imperialistas do capital querem obter o dinheiro que seria gasto na melhoria e manutenção do ensino de vários estudantes brasileiros. Certamente, este tipo de política fomenta hipocrisia, que é a raiz da corrupção. Não é à toa que quanto mais as exportações crescem no Brasil, menos se vê a cor do dinheiro. O vazamento monetário é patrocinado por uma atmosfera de conformismo ditada pela ordem econômica mundial, para cujo sustento o país tem obrigação de servir através de seus recursos.

Todos se prejudicam consciente ou inconscientemente neste processo, mas quem mais perde são os entusiastas de um projeto educacional que contemple mudanças nesta realidade, pois precisam amargar a sensação de que dificilmente algo irá mudar. As ações práticas acabam se tornando meros atos de militância ou jogos de marketing de grandes empresas que se gabam de ter “responsabilidade social”. Entretanto, o tempo presente não é só desilusão, há possibilidades. Uma dessas é também característica dos tempos atuais: o posicionamento crítico. Embora não sejamos acostumados a nos posicionar criticamente diante das situações, há uma certa abertura para isso, principalmente no meio acadêmico. Expandindo-se o diálogo com a população, através até mesmo do contato diário da profissão, poderá, em longo prazo, contribuir para pelo menos modificar a forma como olhamos para a sociedade, evitando a aceitação de imposições vindas de quem só quer nos dominar. Quem sabe aconteça alguma coisa?

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4.1.07

Lições simples para um 2007 de sucesso

O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; mas os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução. (Pv 1,7)


INTRODUÇÃO
Nesta transição de final para início de ano, é comum refletirmos sobre os erros e acertos do ano que se passou, visando planejar um futuro ano melhor. Existe uma ansiedade em torno desta avaliação, uma vez que a preocupação não está relacionada ao presente, isto é, ao agora, mas aos 12 meses que estão à porta, como uma espécie de desafio a ser vencido. Ou seja, uma das nossas grandes preocupações iniciais do ano é simplesmente ter consciência de que se está vivendo um novo ano.

Neste ambiente de dúvidas e incertezas, salta aos olhos o desejo de descobrir a fórmula do sucesso, isto é, aquilo que pode afastar-nos dos medos que cercam o dia-a-dia de todos nós, porque todos nós planejamos o futuro, aquilo que pretendemos ser, fazer e realizar. Embora esta seja uma questão pessoal, a sociedade também cobra de cada indivíduo uma postura diante deste futuro, transferindo um peso maior para uma ansiedade que já é pessoal. [Quantos jovens não são perguntados sobre a faculdade que pretendem cursar, a profissão que vão seguir – de preferência uma que lhe renda um bom dinheiro? Quantas pessoas não são questionadas sobre suas decisões sentimentais, se vão casar ou não?, etc.]

Assim, diante do medo do novo, cuja definição aparenta-nos obscura, afinal ninguém sabe o que está por vir, resta-nos assumir a inutilidade de sonhar com um amanhã de sucessos. E ter sucesso é entendido como ser o primeiro, estar sempre à frente, isto é, no topo do pódio, jamais no segundo lugar, passando em cima de tudo para atingir os objetivos e metas estabelecidas em meio à tensão entre o medo do incerto e as pressões pessoais e sociais para se definir no amanhã, e não no hoje. Mas, será que a vida é só vencer? Será que realização é sinônimo de número 1?

Pois bem, pretendemos refletir sobre isso a partir da partícula de um texto, o qual compõe um bloco de textos instrutivos à vida, porém estes não devem ser vistos como regras para se viver, pois a instrução aqui é mais do que uma imposição ou sugestão, mas uma radiografia da pura realidade da vida. Alguém está querendo mostrar como a vida realmente é, doa em quem doer. Esta é a razão destes escritos serem denominados por sapienciais, pois estão relacionados à sabedoria humana frente ao desafio de viver.

Estamos diante de um dos textos mais centrais e decisivos na compreensão da antiga sabedoria hebraica. O motivo dessa importância talvez se deva ao fato de o autor sacro fazer uso de termos encontrados majoritariamente na literatura deste gênero. São termos sempre lembrados ao longo do discurso proverbial.

Antes de analisar cada termo e desenvolver nossa reflexão sobre estes, vamos considerar a intenção que o texto pretende trilhar no universo de Provérbios e tentar acessar os fatores contextuais, cujo pano de fundo ajusta nossa lente a fim de enxergarmos um pouco mais daquilo que enxergamos normalmente.

É possível sentir, no antigo contexto da sabedoria hebraica, uma preocupação em colher frutos da experiência vivida, ou seja, é muito mais do que refletir sobre a vida, mas sim se posicionar diante dos resultados dela. Portanto, enquanto ser que pensa, o homem não vai deixar ser levado pelo momento, mas vai tomar em suas mãos o seu destino para descobrir, em meio às confusões e perigos da vida, a rota certa de um caminho que ele já está seguindo. Saber viver é o descobrir-se dentro deste caminho e buscar no próprio caminho as respostas para as perguntas e indagações que vêm à tona ao longo da vida.

É daí, da vida prática, que vão nascer os provérbios; porque Provérbios querem mostrar que a vida que pergunta é a mesma vida que responde, na medida em que vida prática é o simples ato de respirar, acordar, alimentar e andar, isto é, o simples ato de viver.

Por isso, a preocupação não está em preceitos ou definições religiosas, mas em uma simples e profunda devoção "humana" a Deus, através da vida cotidiana. Aqui vemos um Deus não distante do ser humano e de sua vida, mas um Deus que se revelou, se revela e se revelará nas simples coisas da vida, naquilo em que os olhos humanos insistem em se fecharem para ver.


1. O TEMOR
Analisando no texto, em primeiro lugar, a palavra temor, alcançamos um sentido mais valorizado, por este expressar um sentido mais íntimo e pessoal, isto é, diz respeito ao meu interior, e não exterior. Talvez a melhor maneira de tocar no sentido da palavra temor seja perguntarmos intimamente sobre o significado de Deus para cada um de nós. O que Deus significa para mim?

Só eu e você podemos responder a essa pergunta para nós mesmos e para ninguém mais, por ser esta uma resposta pessoal. Há um risco de cairmos na superficialidade ao definir temor simplesmente como adoração ou reverência, pois adoração é o resultado da nossa vida prática, do nosso cotidiano. Temor aqui não significa medo, mas o reconhecimento profundo de que Deus é Deus.

1.1. O temor do Senhor
A expressão que procede temor é do Senhor, e aqui o que nos resta é calar diante desta sentença, do inefável significado que traz o nome traduzido por Senhor. O silêncio expressa o que caracteriza o resultado de temor, pois a verdadeira adoração é o resultado da nossa vida prática, a qual configura o significado deste ser infinito, quem está além até mesmo das palavras humanas. Assim, temor só é temor quando significa se calar, e o se calar é o se prostrar diante do Senhor para viver a vida que ele nos deu, tal como o pássaro se prostra para viver a vida de pássaro, e não de peixe, tal como a flor se prostra ao ser flor, e não árvore.


2. O PRINCÍPIO
Princípio é o começo, é o início, enfim, é o primeiro passo, por isso é o nosso melhor, as nossas primícias. É o que de melhor nós temos nas nossas experiências de vida, porque é algo que está marcado e nada pode tirar.

2.1. O princípio do conhecimento
O princípio marca, por ser este a base de toda construção, sendo aqui a base de conhecimento, saber, sabedoria. Estes termos indicam o sentido de reconhecimento, de habilidade. Seria a experiência de vida na sua essência, isto é, o resultado, o alcançar. Poderíamos até dizer que este é o resultado de nosso caminho trilhado sabiamente, pois aqui está expresso eu e você lá na frente, no futuro, onde construímos, no passado, o que viveremos lá. O futuro aqui não parece ser uma projeção a se alcançar, mas uma realidade palpável, cuja vivência depende de nós mesmos.


3. OS INSENSATOS
Mas existe uma incógnita, ou seja, um desconhecido ponto determinante que pode ser importante na solução de um problema. É o termo insensato, louco, tolo. É o despreocupar-se com os resultados da vida prática, pois insensatos são aqueles que não querem viver como Deus os fez, querem ser tudo menos seres humanos. Todavia, não pensemos nós que este termo refere-se a terceiros, pois este é um adjetivo substantivado, o que denota um estado de ser ou um diagnóstico que pode acometer a mim e a você. É como se fosse um buraco aberto no caminho da vida, onde sempre há uma possibilidade de cairmos, ou não.

3.1. Os insensatos desprezam a sabedoria
Na qualidade de insensatos desprezamos as pérolas da vida. Uma delas é a sabedoria, que aqui não é somente uma habilidade, mas uma habilidade técnica, isto é, uma habilidade a se adquirir. Diferente do resultado, este é o como chegar lá, pois a voz da vida denuncia que viver não é só visualizar a realidade — essência —, mas buscar interagir com a própria vida — forma —, ou seja, chorar quando as lágrimas vierem, sorrir quando a alegria brotar, ser triste e ser feliz; esta é a dinâmica da vida. Em resumo, a sabedoria é um discernimento crítico, uma capacidade de percebermos profundamente a realidade e as situações que nos levam a orientar a nossa vida.

3.2. Os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução
Atrelada à sabedoria está a instrução, disciplina. Aqui está a nossa segunda grande falha como insensatos. A instrução é a correção ou advertência aos nossos erros, porque só se corrige o que está errado. Todos nós erramos, porém o maior problema parece não ser o errar, mas a postura diante dos erros. Instrução não é procurar os erros e acertos, e sim é o processo de se autocriticar, isto é, uma correção que visa à educação. Esta é uma instrução pessoal e não de terceiros. Como insensatos, podemos instruir ao mundo inteiro, mas sempre falhamos em instruir a nós mesmos.


CONCLUSÃO
Por fim, nesta reflexão, poderíamos aprender, com os sentidos destes termos, que olhar para um 2007 de sucesso é olhar primeiramente para o 2007 atual, o qual estamos vivendo, isto é, o hoje, o agora. Aí, descobrimos as lições simples para a vida atual, uma vez que, se o temor do Senhor é o me calar diante daquilo que ele significa para mim, podemos estar certos de que ele nos fez para viver a vida hoje, pois o amanhã só a ele pertence, no amanhã só nos resta calar. Este é o primeiro passo para um ano entregue à realidade em que estamos inseridos, seja qual for, e este é o nosso melhor, pois é o que nos faz sentir o chão em que pisamos, a nossa realidade.

Ainda que em alguns momentos despreocupemos com os resultados da vida, lembremo-nos sempre de que esta incógnita pode ser revertida em uma atenção à vida como ela de fato é, sabendo que a autocrítica é a melhor ferramenta para um crescimento cauteloso e sadio. Pois ter sucesso, muitas vezes, não é só vencer a vida, mas é simplesmente saber vivê-la. E que Deus nos ajude!

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3.1.07

Chegar e sair: o tempo do conflito entre vocação e formação na vida dos concluintes do curso de teologia*

*Discurso de orador da turma de formandos 2006 do Curso de Teologia, do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Proferido no sábado, 09 de dezembro de 2006.


INTRODUÇÃO: É TEMPO DE CHEGAR!
Saudações aos diletos amigos e parentes, aos caros colegas formandos, aos estimados professores e funcionários do Seminário do Sul, enfim, a todos que gentilmente aceitaram o convite de prestigiar este evento solene.

6 de janeiro de 2003, após uma longa viagem de mais de doze horas, enfim se avista a rodoviária Novo Rio. Era uma manhã como qualquer outra, não fosse o fato de significar tanto para um jovem de 18 anos que chegaria à Colina, cheio de sonhos. Acreditara que isso era o suficiente para se trazer numa bagagem tão oca que de essencial mesmo só continha uma coisa: a vocação. Lá nos rincões do interior de Minas, ele conhecera sua companheira que, disposta a tornar real o chamamento de Deus em sua vida, abandonou seus planos para embarcar junto de seu recém-marido com objetivo de se prepararem para o ministério. Ambos deixaram para trás familiares e amigos, crendo ser esta a melhor maneira de reagir afirmativamente àquele critério do Mestre de que “quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus”. É tempo de chegar!

Sala cheia. Esse era o primeiro dia de aula. Muitas pessoas dos mais variados lugares, de diferentes denominações. Que surpresa saber que não éramos os únicos a entrar neste mundo mágico! Todos possuíam a impetuosidade de questionar como uma criança e a fluidez de argumentar como um sábio. Os professores foram entrando em cena, cumprindo seu papel de docentes em um curso de teologia: oferecer uma formação. Pouco a pouco, as forças e convicções dos alunos foram se abalando. Já não sabíamos mais perguntar, quanto mais responder. O “céu-minário” enfim passou a ser enxergado como um seminário. Gradativamente, aquela fugaz inocência de Escola Bíblica Dominical fora substituída por uma pseudo-erudição, transformando-nos em crias mal feitas dos nossos mestres. Conforme o nível de admiração e da personalidade do estudante, esta identificação tornava-se latente ou manifesta.

Pela primeira vez, então, chegou um momento em que ocorrera uma certa tensão entre vocação e formação. Como? Se nós entendíamos que o caminho mais acertado para reagir positivamente à chamada divina era ingressar no seminário? Quem foi que tampou nossos olhos para ver que o papel do nosso curso era formar e não vocacionar? É óbvio que ninguém esperava encontrar uma escola na qual não cursasse disciplina alguma além de exercícios devocionais. Quem assim pensou saiu. O tempo de chegar tornara-se prematuramente o tempo de sair. Aliás, a “peneira” ocorrera durante todos os quatro anos. Colegas desistiram de continuarem seu curso pelos mais variados motivos. Contudo, aqueles que aqui recebem o diploma de Bacharel em Teologia sentiram e sentem na pele o conflito ambivalente entre vocação e formação desde o tempo em que de fato chegaram ao seminário.


1. POR QUE ESTE CONFLITO?
Afinal, por que razão haveria este suposto conflito? Certamente, esta não é uma pergunta fácil de ser respondida. O que se pode dizer é que, feliz ou infelizmente, coexistem duas questões clássicas no âmago de nós formandos que parecem ser tão antagônicas quanto análogas. O seminário forma teólogo ou pastor? “Os dois”, responde o nosso reitor e professor doutor Israel Belo de Azevedo no edital deste ano , considerando esta pergunta como um “equívoco lamentável desde a sua formulação”.

É notável que esta discussão se amplia quando consideramos que o graduando em teologia transita em dois mundos, a saber, a igreja e o seminário. Parece que de um lado, há espaço para o desenvolvimento de sua vocação por meio da fé, enquanto que do outro, ele é instigado a cuidar de sua formação através dos estudos. É fácil reduzir este problema afirmando que o pastor vai aprender a ser pastor mesmo é na igreja, porque no seminário seria um lugar para teólogo. No entanto, à medida que se observa esta distância entre igreja e seminário, mais prejudicada se torna a relação entre a vocação e a formação na cabeça do estudante. Entenda-se aqui vocação como uma “disposição natural e espontânea que orienta uma pessoa no sentido de uma atividade” — neste caso, o ministério — e formação como “um conjunto de conhecimentos e habilidades específicos a um determinado campo de atividade prática ou intelectual” . Ou seja, conceitualmente, um não está dissociado do outro, pois a vocação demanda a formação.

Pensando assim, é falácia atribuir valor maior ou menor ao pastor e ao professor do seminário, já que o papel de ambos é contribuir para o amadurecimento da nossa vocação e formação, obviamente, nos seus respectivos âmbitos. Isto não significa que o conflito não deva existir, pelo contrário, teologia e ministério atuam nas famigeradas esferas da teoria e da prática, cuja tensão se observa em qualquer campo do conhecimento.

Interessante observar que no Seminário do Sul, ainda há um esforço em comunicar esteticamente ao estudante sobre a importância da fé e da razão conviverem juntas. Ao subir a ladeira, observamos que de um lado, está a capela, com a torre apontada ao infinito, ao estilo puritano, para onde uma vez por semana o alunato é convidado a se dirigir com o objetivo de cultuar a Deus. Do outro lado, está uma fascinante biblioteca com milhares de títulos indispensáveis ao estudo teológico. Sabe-se que ambos os monumentos são conectados por apenas uma escada, dando acesso único à capela e à biblioteca. Talvez, várias vezes, estivemos em dúvida quanto à relevância de uma ou de outra, mas esquecemos de enxergar que ambas fizeram parte de nossa vida ministerial e acadêmica. Da mesma forma que não deixamos de orar durante os quatro anos, não podemos simplesmente abrir mão de nossos livros ou deixá-los à mercê da poeira e das traças a partir de agora.


2. QUANDO SER PASTOR E QUANDO SER TEÓLOGO?
A dificuldade natural que nós seres humanos temos de conviver com a existência de dilemas faz com que questionemos sobre quando ser pastor e quando ser teólogo. Mais uma vez, não parece ser este um problema tão fácil de se resolver, quanto se aparenta. Até que ponto será que a práxis pastoral se encontra com ou se afasta da teologia? Dois grandes teólogos de nossa era já se debatiam quanto a isso. De um lado, Karl Barth defendia que “o teólogo deve percorrer um duplo caminho: o do pensamento ascendente e o do pensamento descendente”, cumprindo assim “a missão de anunciar a Palavra de Deus”, mesmo que “de uma maneira fragmentária e imperfeita” . Já Paul Tillich prefere afirmar que “a teologia não é nem pregação nem aconselhamento; por isso, o sucesso de uma teologia, quando aplicada à pregação e ao aconselhamento pastoral, não é necessariamente um critério de sua verdade” . Entre estes autores, há algo em comum quando os dois buscam visualizar a relação entre teoria e prática, ou teologia e pregação. O primeiro tende a achar que esta sujeita àquela por causa do querigma (mensagem). O segundo vê que há uma relação de interdependência entre uma e outra , mas que ambas agem em diferentes âmbitos. O fato é que os papéis do pastor e do teólogo se aproximam da mesma forma que se distanciam. Já ouvimos que “todo pastor deve ser um teólogo”, mas creio ser difícil ouvir que todo teólogo deve ser pastor. Da mesma maneira, é possível que se ouça que “o teólogo serve à igreja”, mas certamente será impossível ouvir que a igreja serve ao teólogo.

Ser teólogo e ser pastor são ações que deveriam ser compreendidas no gerúndio: sendo teólogo e sendo pastor. Assim, entender-se-ia que ministério e teologia são estados de ser próximos e distantes ao mesmo tempo. Convivem e combatem historicamente até se alinhar à guisa de dois trilhos que orientam os nossos rumos como vocacionados e formados, ministerial e teologicamente.


3. “TEMPO” DE MINISTÉRIO E “TEMPO” DE TEOLOGIA
Não é redundante afirmar que ministério e teologia são intrínsecos à nossa carreira daqui por diante, quer queiramos ou não. Se parece confuso afirmar que somos orientados a conviver com duas realidades sempre presentes em nossa vida pós-seminário, lembremos do que a sabedoria bíblica diz:

Há um tempo para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu.

Tempo de nascer,
e tempo de morrer;
tempo de plantar,
e tempo de arrancar a planta.

Tempo de matar,
e tempo de curar;
tempo de destruir,
e tempo de construir.

Tempo de chorar,
e tempo de rir;
tempo de gemer,
e tempo de bailar.

Tempo de atirar pedras,
e tempo de recolher pedras;
tempo de abraçar,
e tempo de se separar.

Tempo de buscar,
e tempo de perder;
tempo de guardar,
e tempo de jogar fora.

Tempo de rasgar,
e tempo de costurar;
tempo de calar,
e tempo de falar.

Tempo de amar,
e tempo de odiar;
tempo de guerra,
e tempo de paz.


É no livro de Eclesiastes, capítulo três, versículos de um a oito, que se observa esta célebre descrição de aporias nas quais o nosso ser está estruturado. Através da linguagem poética, o sábio nos ensina que os atos desconexos são traços inerentes à dialética vida-morte. Ou seja, aqueles significados que achamos ser tão opostos estão mais juntos do que imaginamos. Em outras palavras, para nascer é preciso morrer; para morrer é preciso nascer. Tudo tem o seu momento. A realidade é que da mesma maneira que a nossa existência precisa rir, ela precisa também chorar. Portanto, na vida a gente já lida com os dois lados da moeda. Não há valor maior ou menor em nenhum destes versos. O ato de jogar fora é tão importante quanto o de guardar, pois a linha que separa estes opostos é bastante tênue.

Este texto foi evocado justamente para elucidar que cometemos um engano quando queremos separar duas realidades tão necessárias na nossa vida pós-seminário. Ministério e teologia são sinônimos de prática e teoria. Ora, toda ação religiosa pressupõe uma base teórica. É claro que muitas vezes a práxis é também objeto de estudo teorético. Contudo, devemos lembrar de que conforme for nossa teoria, assim será nossa prática. Igualmente, se nosso objetivo for apenas nos prender às discussões friamente teóricas, perderemos a noção do efeito do conhecimento que resulta na prática. Nossa atenção precisa ser dupla. Ministério e teologia, prática e teoria precisam coexistir em nossas vidas após esses quatro anos. Cometer um ministeriocídio ou teologicídio é o mesmo que querer morrer sem nunca ter nascido. Precisamos conceber a idéia, usando a linguagem de Eclesiastes, de que este é um tempo, para nós, de ministério e de teologia.

3.1. Pensar em ministério, pensar em vocação
Para isso, é necessário pensar que temos um ministério, cuja origem está na nossa vocação. Talvez para alguns, esse pensamento já tenha começado antes de entrarem no seminário. Para outros, no entanto, a vida ministerial começa a partir de agora, quando serão consagrados ao ofício pastoral. O fato é que todos imaginam ter um ministério. Certamente, este não é um privilégio apenas de vocacionados para o serviço religioso. Aliás, a rigor, “todo indivíduo que tem fé religiosa tem, em virtude dessa fé, uma vocação espiritual”, pois “vocação não é mera ocupação, ela exige a total consagração da vida” . Isso qualquer cristão pode fazer, muito melhor do que quem passa pelo seminário. Na linguagem de 1Pd 2,5, o novo povo de Deus constitui-se como “sacerdócio santo”, pois não são mais dependentes de mediadores para achegarem-se ao sagrado. Portanto, todos os cristãos são, por natureza, vocacionados. Os protestantes, têm historicamente afirmado princípio de sacerdócio universal dos crentes .

3.2. Pensar em teologia, pensar em formação
A diferença, no entanto, está no fato de nós, teólogos, termos a necessidade de pensar também que temos uma formação para cuidar. Dentro ou fora da igreja, enfrentaremos muitos desafios os quais constituem a “situação” à qual devemos responder. Precisamos ser criativos na construção de uma teologia que possa, de fato, responder às perguntas implícitas nesta “situação”, unindo tanto o poder da mensagem eterna, quanto os meios oferecidos por esta “situação” na qual estamos inseridos. Nas palavras do nosso reitor, em uma entrevista ao Jornal Batista , “precisamos de um choque de graça, de uma teologia da razão e de uma atitude de assombro” para combater as muitas teologias que surgem com intenções duvidosas, para prover cristãos melhores para a sociedade e para mostrar a diferença do Deus em que cremos. Sabe-se também que teologia não é assunto que diga respeito apenas a quem fez ou faz seminário, pois, a rigor, “qualquer um que reflita sobre as questões fundamentais da vida — incluindo perguntas sobre Deus e nossa relação com ele — é teólogo” . Então, a teologia será feita independente de haver ou não seminários. Contudo, resta-nos verificar qual o tipo de teologia que temos produzido ou temos baseado nossa formação.


CONCLUSÃO: É TEMPO DE SAIR!
Muito se falou, mas o conflito entre formação e vocação não parece ter sido resolvido. Na verdade, não há como resolvê-lo. Vivemos o tempo, sobre o qual fala Eclesiastes, onde habitam os dois lados da moeda. Somos vocacionados em formação e, ao mesmo tempo, formados em vocação. A única conclusão a que chegamos é a da incerteza quanto ao fato de sabermos quando somos ou seremos teólogos e pastores. Sejamos teólogos sempre quando formos pastores. Sejamos pastores sempre quando formos teólogos. Leonardo Boff alerta que “é melhor que errem os teólogos do que os pastores”, mas também diz que “o teólogo pode assumir a tarefa de pastor (que anima) ou de profeta (que discerne os sinais dos tempos), ou pastor e profeta simultaneamente.”

Daqui a pouco iremos todos para nossos respectivos destinos. É tempo de sair! Temos muitas fontes de onde beber. Afinal, foram 11 matérias por semestre, que provocaram uma overdose de conhecimentos dos quais faremos uso a partir do princípio paulino de examinar tudo e reter o bem . Contudo, nossas fontes principais estão na fé e na situação em que vivemos . Precisamos considerar a consciência religiosa das pessoas em correlação com a Bíblia e a tradição cristã , ao mesmo tempo em que devemos ter em mente que estamos inseridos numa comunidade histórica. Por isso, ao lado da Palavra de Deus, devemos ter, em nossas estantes, não apenas livros de teologia, que proporcionam nossa formação clássica, inserindo-nos no círculo teológico , mas também livros de outros campos do saber, que nos dêem a sensibilidade necessária para articular com o nosso tempo atual. Somente assim seremos criativos o suficiente para dialogar, de maneira crítica e analítica, o discurso da fé com o discurso da história, o que confere contemporaneidade ao pensamento cristão.

Vale lembrar de um dos maiores profetas da história da humanidade, que fora o único de seu tempo capaz de romper com o sistema estabelecido, transformando a história do mundo , Martinho Lutero, quem inaugurou a Reforma que girou em torno de livros, não só do livro . O surgimento da imprensa ao lado da Bíblia provocou uma revolução completa na história, onde as fontes sagradas, outrora ocultas, passaram a serem desveladas a qualquer pessoa. Este fato culminou com o princípio de sola scriptura, que condena qualquer tentativa de tornar hermético o acesso às Escrituras, conseqüentemente, ao conhecimento. Através da atitude de Lutero, aprendemos que não há ciência oculta a qual não podemos acessar. Tal idéia libertou o conhecimento de estar preso a um ditame religioso, muito comum na Idade Média.

Este acesso às ciências não significa uma ameaça à fé. Somos partidários do princípio de sola fide, que simboliza a existência de uma fé inerente ao ser humano, por meio da qual se tem acesso à graça. Tal fé não é particularista de um só grupo. Todos, de alguma maneira, têm fé. Precisamos dialogar com essa fé, pois já passou o tempo em que ficávamos enclausurados em uma fé não-dialógica. Isso demanda uma consideração por outras confissões de fé que merecem nosso respeito. Jamais esqueçamos de que o princípio mais ecumênico que nós batistas historicamente temos afirmado é o da liberdade religiosa, pois entendemos que “cada pessoa é livre perante Deus em todas as questões de consciência e tem o direito de abraçar ou rejeitar a religião, bem como de testemunhar sua fé religiosa, respeitando os direitos dos outros.” Precisamos promover a paz e não a guerra entre as religiões.

Devemos voar vôos altos, mas sempre lembrarmos de que nossas asas estão quebradas, já que nossas falas são “por demais humana” . Nosso verdadeiro púlpito são nossas próprias vidas. Elas, sim, dão vero testemunho dos nossos discursos. Todos somos profissionais de uma fala de santidade, mas, infelizmente, por tantas vezes temos atirado a primeira pedra quando o nosso próprio telhado é de vidro. Chega de condenar! Vamos expressar mais a graça da qual nenhum de nós é merecedor. Este é o outro princípio da Reforma de sola gratia, o qual deve retumbar em nossos ouvidos cada vez que nos achamos alguma coisa. Quando nos considerarmos iguais a todo mundo, seremos capazes de cumprir a tarefa de “apresentar a palavra eterna e a vontade de Deus no meio das idiossincrasias do local e das pessoas”.

Enfim, estejamos com estas preocupações em mente, atentos especialmente para a existência deste conflito entre formação e vocação. Precisaremos sempre de formação e de vocação. É tempo de saber conviver com este conflito que se desdobra entre teoria e prática, ministério e teologia, pastor e teólogo, e et cetera. Por mais difícil que seja, ambos os lados devem coexistir. Não podemos suprimir um em detrimento de outro. Afinal, nosso desafio é de sermos criativos a ponto de perseguirmos nossa vocação pelos caminhos da formação, fazendo jus tanto a uma disposição em responder a um chamamento divino quanto a um diploma de bacharel em teologia, que ora recebemos. Que assim seja!


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