30.1.07

Criador, criatura e criação

A doutrina da criação é mais uma descrição da relação básica entre Deus e o mundo do que um relato sobre algo que aconteceu no passado, constituindo uma contínua resposta à pergunta implícita na criatura. Ao se pensar em criação, é preciso localizar as instâncias divina e humana no plano da origem, preservação e providência. Neste sentido, Criador e criatura são indissociáveis, pois "ser criatura significa estar enraizado no fundamento criativo da vida divina e, ao mesmo tempo, efetivar o próprio eu através da liberdade", ou seja, "a criação se plenifica na auto-realização da criatura". (Paul Tillich)

Ao contrário de quem entende que o Criador ordenou um mundo pronto e acabado, cabendo à criatura apenas fazer uso dele, percebe-se que seu projeto não foi nenhum senão o de dividir o processo de criação com sua própria criatura, dotando-a de habilidades próprias para tal. Assim, o fato de o ser humano perceber a necessidade de ser mantenedor do seu espaço revela o papel ativo dele também na preservação de toda criação.

Essa sua responsabilidade coloca o dedo na ferida do mal afamado senso de depredação da natureza — a criação —, cujo crime tem sido praticado pela humanidade ao longo dos anos contra seu próprio planeta. Infelizmente, este assunto entrou na agenda recentemente, sobretudo a partir do século XX, com a ocorrência de fenômenos extranaturais como o aquecimento global, a extinção de espécies da fauna e da flora, o desmatamento desenfreado, a provocação de um buraco na camada de ozônio, mais recentemente, as tsunamis, etc. Tudo o que fizermos, depois de tanto tempo, será para remediar o problema.

Precisamos entender que é dever do ser humano, como criatura — não apenas de Deus, como Criador — ser provedor de meios para a recuperação da sua atmosfera, principalmente porque ele é o principal responsável pela destruição da criação. É claro que providência é um traço eminentemente divino, mas é importante lembrar que a segurança na crença de um Deus provedor sempre é paradoxal, isto é, uma fé "apesar de", mostrando que aquele que crê é sempre aquele que age, e não espera sentado. A criatura tem, portanto, um papel ativo na responsabilidade criativa, preservativa e provedora do ambiente no qual está inserida. Ela é quem participa do projeto divino de criar, proteger e prover, a cujo objetivo serve em parceria com o seu Criador para o bem da criação.

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15 Comentário(s):

  • At 30 de janeiro de 2007 às 18:41, Blogger Elsa Sequeira said…

    Olá Felipe!!
    Deus criou a criatura, criou-a livre e dotada de inteligência, o que a fez evoluir; a evolução é positiva, mas acaba sempre por destruir o meio ambiente...penso que se devia utilizar cada vez mais essa inteligência para todos protegermos ao máximo a obra de Deus Criador!!

    Tudo de bom para ti!!!

    Bjs

    :))

     
  • At 30 de janeiro de 2007 às 19:30, Blogger Felipe Fanuel said…

    Bela palavra, Elsa!

     
  • At 1 de fevereiro de 2007 às 09:00, Blogger Alysson Amorim said…

    Felipe.

    Entender a criação como um processo em trânsito nos permite defender o desenvolvimento sustentável. Cabe ao homem-criador se valer dos recursos naturais para melhorar suas condições de vida. Neste processo, no entanto, alguma verdades precisam ser encaradas, e a principal delas é que os recursos são escassos e precisam ser utilizados com racionalidade, com o planejamento natural a qualquer criador.

    A auto-realização do ser-humano bem como sua auto-destruição passa pela forma como ele se relaciona com o seu habitat natural.

    Abs.

     
  • At 1 de fevereiro de 2007 às 13:45, Blogger Felipe Fanuel said…

    Caro Alysson,
    Vc falou tdo qdo disse q os recursos são escassos... Nossa ilusão é de q há mta fartura na criação a ser explorada... Ledo engano.

    Valeu!

     
  • At 1 de fevereiro de 2007 às 13:58, Blogger Marlene Maravilha said…

    Realmente Felipe, no homem está o maior problema do mundo! e Deus criou o homem e tudo perfeito, mas o este sempre deturpou tudo.
    Excelente texto. Rico e profundo.
    bjo grande

     
  • At 1 de fevereiro de 2007 às 14:15, Blogger Felipe Fanuel said…

    Ei Marlene,
    Q bom vê-la aqui novamente!
    Obrigado pelas palavras.
    Bjo

     
  • At 1 de fevereiro de 2007 às 22:13, Blogger Tamara Queiroz said…

    Nunca antes eu tinha lido alguém abordar este assunto da forma como você o fez. Interessantissimo!

    Vejo muitas pessoas agirem de acordo com o Determinismo Revisitado de Freud, onde tudo o que as pessoas fazem de errado é culpa de alguém. E por que não culpar o criador?

    ........
    Sabe, vou te contar um segredo, toda vez que tocam nestes assuntos preocupantes, eu sinto uma vontade enorme de estufar o peito e sair com a cabeça erguida para dar a cara à tapa para a mudança {um pouquinho só!}, mas, francamente, eu desisto antes de concluir o raciocínio. Lamentar...

     
  • At 2 de fevereiro de 2007 às 11:20, Blogger Felipe Fanuel said…

    Quanta honestidade, Tamara! Acho que todos enfrentamos o mesmo problema quando lidamos com esses assuntos preocupantes.

    Temos, sim, o hábito de por culpa em alguém, como se fosse um vício moderno. Insistimos que todo problema tem uma causa. Meu ponto aqui foi mostrar um pouco sobre como as coisas funcionam, mas acabei pesando a crítica sobre a criatura. Vc fez bem em questionar o porquê da culpa não ser do Criador, pois ninguém pediu para ser criado. Creio que somos todos parte deste processo. O Criador é tão criatura quanto criação. Tudo vai depender da maneira como nos identificamos no processo Criador, criatura e criação.

     
  • At 2 de fevereiro de 2007 às 15:52, Blogger david santos said…

    Então, Filipe! Como vai esse teu Brasil?
    Tudo bem, claro.
    Bom fim-de-semana

     
  • At 2 de fevereiro de 2007 às 16:43, Blogger Felipe Fanuel said…

    Opa!
    Tdo bem.
    Prazer conhecê-lo, David!
    Seja sempre bem-vindo.

     
  • At 2 de fevereiro de 2007 às 18:31, Anonymous Anônimo said…

    Você sabe dizer as coisas.


    E pensá-las, antes, certamente!


    Teu breve ensaio sobre Lúcifer lá no Mude está genial.


    abraços, flores, estrelas...

     
  • At 2 de fevereiro de 2007 às 18:56, Blogger Andreia said…

    Ás vezes não protejemos o que temos suficientemente...

    P.S. Obrigada pelas tuas palavras no meu blog!

     
  • At 2 de fevereiro de 2007 às 20:19, Blogger Felipe Fanuel said…

    Caro Edson,
    Sua presença aqui é sempre muito agradável.

    Grato pela gentileza.


    Olá Andreia!
    Obrigado a ti pela contribuição.

     
  • At 2 de fevereiro de 2007 às 21:18, Blogger Elsa Sequeira said…

    Felipe!!

    tu és um querido!!!
    Adoro as tuas palavras por lá!!!
    Passo para te desejar um óptimo fim de semana!!

    Tudo de bom!!

    :))

     
  • At 2 de fevereiro de 2007 às 22:06, Blogger Felipe Fanuel said…

    Obrigado pelo carinho, Elsa.
    Desejo-lhe o mesmo! ;-D

     

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