24.2.07

Horário de verão

É Brasil.
Hoje meia noite são onze horas, ontem era uma hora.
Aqui adianta relógio para economizar energia. Adianta?

Auroras escuras, crepúsculos claros.
No início é o inferno, no fim é o paraíso.
Dormi pouco ontem, amanhã dormirei muito.

Uma hora, apenas sessenta minutos, pode mudar a vida de um povo.
A TV e o rádio lembram à população de que começou e acabou.
Noite é noite. Dia é dia. Tudo volta ao normal. Chegou a hora do atraso. Atrasa tudo, inclusive a vida!

Difícil mesmo é acostumar e desacostumar.

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23.2.07

Sem guarda-chuva


A chuva cai sobre o justo e sobre o injusto. Quem mais se molha é o justo, porque o injusto está sob o guarda-chuva do justo... Por favor, tirem logo esses guarda-chuvas! Afinal, justos e injustos foram feitos para se molharem.

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20.2.07

2007

Fui desafiado a falar de 2007. Para ser sincero, meu ano nem começou. Não aqui, onde estamos celebrando Dionísio 51 dias depois de brindarmos a entrada de supostas mais 365 vinte quatro horas em nossas vidas. Eu quero mais é que o ano não chegue! Pode parecer muito brasileiro de minha parte, mas meus desejos para os próximos meses é que não haja desejo algum além daquele que nasça no calor do dia-a-dia. Gente, estamos falando daquela aspiração humana de preencher um sentimento de falta ou incompletude. Sim! É daí, do querer, da vontade, dos mais animalescos traços humanóides que surgem nossas volições. Não fiquem ouvindo este tal de Apolo sussurrar no ouvido de vocês que é hora de planejar a vida. Não adianta preparar, porque no final tudo vai dar errado. Melhor mudar esse negócio de ano novo para novo ano, ou seja, deixem o adjetivo antes do substantivo, por favor! Ano sempre haverá, mas não sei se será novo. A coisa mais importante para mim agora é que eu estou vivendo algo novo, simplesmente isso. Tomara que seja assim até a abertura da outra garrafa de champanhe.

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18.2.07

Os quatro ídolos

O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) — ou “Chico Toucinho”, como alguém já disse — observou quatro obstáculos que nos impedem de conhecer a realidade. Esses “ídolos”, conforme Bacon denomina, estariam firmemente enraizados em nossa mente, sendo preciso cautela e inabalável vontade para se libertar deles. Vejamos quem são os dito-cujos:

• Ídolo da tribo: São nossas próprias condições antropológicas. Ou seja, somos limitados, primeiramente, porque somos humanos.

• Ídolo da caverna: São nossos requisitos fisiológicos e psicológicos, com os quais nascemos, isto é, as condições, ou biográficas ou sociais, nas quais crescemos. Seriam as limitações pessoais peculiares a cada um de nós.

• Ídolo do mercado: É o mau uso de construções lingüísticas, frases, designações, particularmente no nível da fala cotidiana. Sim! As palavras podem violar o intelecto, perturbando-nos e seduzindo-nos a várias desavenças.

• Ídolo do teatro: São os princípios e teoremas que ganharam validade por tradição, credulidade e negligência, mas são conceitos incorretos que mantêm autoridade apenas por terem infiltrado na mente humana. Acaba sendo um abuso autoritário.

Pois bem, agora é só começar o iconoclastismo!

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15.2.07

Teogonia humana

Conta-se na tradição hindu que houve um tempo em que os seres humanos eram deuses, mas eles abusaram tanto de sua divindade que Brahma, o criador, acabou decidindo retirar-lhes o poder. Quis escondê-lo num lugar onde seria impossível encontrá-lo, mas teve dificuldade em achar tal esconderijo. Brahma chamou um conselho de deuses para resolver o problema. A primeira idéia foi enterrar a divindade do ser humano na terra. Brahma, porém, respondeu: “Não, isto não basta, pois o homem vai cavar e encontrá-la”. Os deuses retrucaram: “Então joguemos a divindade no fundo dos oceanos”. Brahma não aceitou a proposta, pois achou que o ser humano um dia iria explorar as profundezas dos mares e acabaria recuperando sua divindade. Assim, os deuses concluíram que não sabiam onde esconder a deidade humana, pois não existe na terra ou no mar lugar onde a humanidade não possa alcançar um dia. Brahma, então, se pronunciou: “Eis o que vamos fazer com a divindade humana: vamos escondê-la na maior profundeza dele mesmo, pois é o único lugar onde ele jamais pensará em procurá-la.” Daí em diante, o ser humano tem ido aos mais distantes lugares, na terra e no espaço, explorando, escalando, mergulhando e cavando, procurando algures aquilo que se encontra dentro dele mesmo.

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10.2.07

Uma lição feminina

Cântico dos Cânticos é um livro sagrado que relata a luta de uma mulher contra um sistema vigente, de considerar uma criação de Deus do sexo feminino apenas como uma outra no harém de satisfação dos homens. O conflito entre poligamia e monogamia é encarado certamente por uma autora, que possivelmente redigiu o núcleo da obra, a saber, cinco poemas e mais o prólogo e o epílogo, comunicando uma única história, cuja autoria da versão final a tradição cultural atribuiu a Salomão.

É uma das únicas partes da Bíblia onde os traços femininos são visíveis na escrita. Quanta coragem uma mulher foi capaz de ter ao expressar, na esteira da sabedoria hebraica, tamanha profundidade de realismo diante da vida! Nenhuma outra composição bíblica ganhou tanto destaque, polêmica e extrema admiração como essa — sobretudo por causa de sua linguagem sensual e erótica — a ponto de um rabino afirmar que “o mundo todo não é tão valioso como o dia em que o Cântico dos Cânticos foi dado a Israel; porque todos os escritos são santos, mas o Cântico dos Cânticos é o Santo dos Santos”.

Não seria errado dizer que as primitivas militâncias em prol da causa monogâmica tiveram origem em mulheres, como esta autora, comprometidas com um amor autodoador, capaz de amar apesar de. Que lição nos legou esta mulher! Sua coragem fez preservar um dos ideais mais pregados na humanidade de amar as pessoas incondicionalmente. Tal mensagem ecoou nas célebres palavras do mestre Jesus, “amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39), como condição necessária para amar a Deus.

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3.2.07

Qual o seu tipo de poeta?


Os poetas Gonçalves Dias (1823-1864) e Castro Alves (1847-1871) constituem os dois extremos da poesia romântica brasileira. Enquanto um inicia e consolida o romantismo no país, o outro se encontra no fim deste período que se perde nas primeiras tentativas de reequilibrar a forma literária — o parnasianismo. O fato é que os poetas com as sensibilidades mais apuradas, ou menos ardentes, e preocupados com a harmonia preferem Gonçalves Dias, enquanto que os de temperamentos mais efervescentes ou mais romanescos, ou mais indiscriminados se inclinam para Castro Alves. A julgar por estas qualidades, qual o seu tipo de poeta?

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Insônia
Sábado às seis.
Sem sono.
Sonho?
Sonhei de segunda à sexta.
Se na semana não sonhasse,
sábado sonharia.

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