O fim de um mundo
Os olhos das pessoas que há alguns dias atrás estavam dentro de uma aeronave partindo de Porto Alegre para São Paulo se fecharam para sempre. Não haverá mais dia, nem noite, para aqueles homens e aquelas mulheres que tiveram um fim trágico, jamais esperado por algum de nós. O mundo do nascer e do pôr do sol já não há para eles e elas. Findou-se para nunca mais voltar.
Como é possível dar adeus a um mundo sem nunca ter pedido para sair dele? Aliás, ninguém sequer pediu para entrar nele. Quando assustamos, nos percebemos aqui, do jeito que somos, lutando para entender o porquê de um dia termos aberto os olhos, forçados por uma luz. Naquele instante, onde, pela primeira vez, as cordas vocais trabalharam, ocorreu também o fim de um mundo.
Para trás, no entanto, não ficaram família, amigos, realizações, decepções, mas uma eterna nostalgia de um indelével mundo, do qual ninguém se lembra, porém tem saudade sem saber que se tem. Lá, coberto pelo líquido amniótico, esteve cada um de nós, dentro do prazer de viver sem ter consciência de que se vive. Ficou, no útero, aquilo que acreditamos ser a razão de nossa existência: a resposta para a pergunta “de onde eu vim?”.
Frutos do prazer, viemos de um mundo perdido, um paraíso que já não existe mais, um Éden. No nascedouro, éramos sem saber que éramos. Entretanto, outro mundo surgiu quando nossos olhos foram abertos, pois passamos a viver conscientes da vida. Que saudade daquele mundo! Afinal, neste mundo atual, a gente não só sabe que está vivendo, mas sabe também que dele um dia sairá.
Quando isso acontecer, haverá choro por parte dos que aqui ficarem. Como se sabe, dos olhos não se pode esperar outra coisa além de lágrimas quando se perde alguém. Não me esqueço de que, quando criança, orava no silêncio de mim mesmo: “Papai do céu, não deixe que ninguém morra!”
Morrer e nascer são sinônimos de o fim de um mundo. Ao sair do ventre de nossas mães, despedimo-nos de um mundo não retornável. Semelhantemente, ao pararmos de respirar, jazerá um mundo ao qual será impossível voltar. Todos morreremos, tal como todos, um dia, nascemos. Eu, porém, na minha infância, não entendia que uma coisa depende da outra: só se nasce morrendo, porque morre um mundo, nasce outro. Já dizia Eclesiastes que “felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem”, mas mais feliz é “aquele que ainda não nasceu” (4,2-3). Mesmo assim, coisa muito difícil é aceitar que, quando um mundo chega ao fim, abrem-se os olhos, no nascimento, e fecham-nos, na morte!
Em memória das vítimas do vôo JJ 3054 que se acidentou no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, há 13 dias atrás.
Como é possível dar adeus a um mundo sem nunca ter pedido para sair dele? Aliás, ninguém sequer pediu para entrar nele. Quando assustamos, nos percebemos aqui, do jeito que somos, lutando para entender o porquê de um dia termos aberto os olhos, forçados por uma luz. Naquele instante, onde, pela primeira vez, as cordas vocais trabalharam, ocorreu também o fim de um mundo.
Para trás, no entanto, não ficaram família, amigos, realizações, decepções, mas uma eterna nostalgia de um indelével mundo, do qual ninguém se lembra, porém tem saudade sem saber que se tem. Lá, coberto pelo líquido amniótico, esteve cada um de nós, dentro do prazer de viver sem ter consciência de que se vive. Ficou, no útero, aquilo que acreditamos ser a razão de nossa existência: a resposta para a pergunta “de onde eu vim?”.
Frutos do prazer, viemos de um mundo perdido, um paraíso que já não existe mais, um Éden. No nascedouro, éramos sem saber que éramos. Entretanto, outro mundo surgiu quando nossos olhos foram abertos, pois passamos a viver conscientes da vida. Que saudade daquele mundo! Afinal, neste mundo atual, a gente não só sabe que está vivendo, mas sabe também que dele um dia sairá.
Quando isso acontecer, haverá choro por parte dos que aqui ficarem. Como se sabe, dos olhos não se pode esperar outra coisa além de lágrimas quando se perde alguém. Não me esqueço de que, quando criança, orava no silêncio de mim mesmo: “Papai do céu, não deixe que ninguém morra!”
Morrer e nascer são sinônimos de o fim de um mundo. Ao sair do ventre de nossas mães, despedimo-nos de um mundo não retornável. Semelhantemente, ao pararmos de respirar, jazerá um mundo ao qual será impossível voltar. Todos morreremos, tal como todos, um dia, nascemos. Eu, porém, na minha infância, não entendia que uma coisa depende da outra: só se nasce morrendo, porque morre um mundo, nasce outro. Já dizia Eclesiastes que “felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem”, mas mais feliz é “aquele que ainda não nasceu” (4,2-3). Mesmo assim, coisa muito difícil é aceitar que, quando um mundo chega ao fim, abrem-se os olhos, no nascimento, e fecham-nos, na morte!
Em memória das vítimas do vôo JJ 3054 que se acidentou no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, há 13 dias atrás.
Marcadores: Pastoral