21.1.10

Tem algo podre no estado do Brasil

Não! Esta não é uma comparação entre o nosso país e a Dinamarca, o país usado por William Shakespeare como cenário de sua mais famosa peça A Tragédia de Hamlet. Mas estas são algumas impressões pessoais sobre a atual cena política brasileira.

Não falo de partidos, mas da mídia. Aliás, não é novidade para ninguém que a televisão e os jornais desempenham um papel de protagonista na trama eleitoral do país. E o fazem com a “fantasia” da neutralidade, apodrecendo nossa democracia com a tirania da “opinião pública”.

Só que não há neutralidade em tal processo de comunicar notícias sobre política. Se um jornalista mencionar um prefeito, um governador ou um presidente em sua matéria, ele usará diferentes tipos de verbos que revelam seu nível de controle da informação.

Por exemplo, verbos como “exclamar”, “responder” e “solicitar” marcam um discurso direto, o que, em um primeiro momento, significa que o texto está mais próximo do original. No entanto, outros tipos de verbo como “descrever”, “discutir” e “falar” já carregam uma distância em relação àquilo que se disse. Sem mencionar uma série de verbos como “reinvindicar”, “negar”, “insinuar”, “propor” e “manter”, através dos quais se expressa um discurso indireto, com o controle de parte da notícia sobre um fato.

Em ano eleitoral, minha pergunta é: sou capaz de ser autônomo em minhas escolhas? Ou sou apenas manipulado pelo humor da mídia? Será que tem alguém brincando com minha opinião?

Não podemos esquecer que, em última instância, somos livres para decidir sobre o que queremos em uma sociedade democrática. Apesar de serem bons recursos para nos ajudar nessa tarefa, os meios de comunicação não podem ser vistos como neutros. Se eles também são livres para comunicar um fato (daí a chamada “liberdade de imprensa”), tal neutralidade só pode ser vista como um mito.

Voltando a Hamlet, podemos lembrar de Polonius, o mui político personagem drama. Ele fica desconcertado com a resposta de Hamlet à sua pergunta “O que você lê?”. Como se sabe, a razão para tal pergunta é a suposta loucura de Hamlet. Diferentemente de suas expectativas, o príncipe da Dinamarca não estava louco. Pelo contrário, pelo menos na política, ele se mostra até mais atento do que nós. Afinal, sua resposta à pergunta de Polonius é simplesmente: “Palavras, palavras, palavras”.


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16.1.10

A escola e seus muros

A escola como ela é. Talvez esta seja a melhor maneira de descrever o filme “Entre os Muros da Escola” (“Entre les Murs”, França, 2008), dirigido por Laurent Cantet. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2008, a produção se destaca por levar a sala de aula para as telas do cinema. Tal gesto revela o quanto o cotidiano escolar é marcado por conflitos limitados por muitas fronteiras, ou melhor, muros, entre alunos de comportamento difícil, e professores bem intencionados e dispostos a trabalhar em uma escola localizada em um bairro perigoso.

François Marin (François Bégaudeau) protagoniza a figura do professor de francês que tenta, sem sucesso, se aproximar dos seus alunos, muitos dos quais de origem não-francesa. Na condição de docente, ele ocupa uma posição de autoridade que não dá margem para ir além dos limites da velha relação de poder entre dominador (professor) e dominados (alunos). De modo que é inevitável assistir ao filme com uma leve sensação de que as coisas são assim mesmo e de que nada vai mudar. Aliás, não é novidade para ninguém que o sistema educacional é uma máquina pesada que faz as suas vítimas, e que os professores são aqueles que fazem as coisas acontecerem exatamente do jeito que elas devem ser, usando para isso os mecanismos de poder que tem às mãos. Em outras palavras, o muro que separa educadores de educandos parece cada vez mais intransponível.

Levando para a escola toda a sua bagagem de vida, os estudantes são retratados no filme como personagens de uma vida dura demais para se dar ao luxo de pensar em agir de maneira “educada” na escola. Filhos de imigrantes sofrem com os mais variados problemas, entre os quais está o fator ilegalidade. A falta de documentação de alguém da família agrava a constante ameaça de retorno ao país de origem. O muro entre a velha e a nova pátria insiste em ser respeitado. Basta observar uma discussão sobre futebol entre os alunos. Torcer para a França está fora de cogitação para a maioria deles, já que preferem a identificação com uma seleção africana.

Vale lembrar que todo esse tom realista do filme é fruto da própria experiência de François Bégaudeau, quem escreveu um livro sobre seu trabalho como professor numa escola. A obra cinematográfica cumpre assim o papel de documentário, sem deixar de dramatizar pequenas histórias do cotidiano escolar, em torno do qual há pessoas que têm muito pouco em comum além de muros.


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4.1.10

Não dá para separar

Não dá para separar Deus da humanidade ou a humanidade de Deus. Jesus destruiu este abismo entre nós e Deus. A sua vida é uma expressão genuína do que é viver diante de Deus e das pessoas.

É de lamentar que as igrejas evangélicas hoje estejam pregando muito sobre alcançar graça de Deus, mas pouco sobre alcançar graça das pessoas. Isso faz com que queiramos converter pessoas para dentro de uma religião organizada, em nome de Jesus, mas nunca aprendamos a viver a vida que Jesus viveu, que não separa Deus das pessoas.


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