A escola e seus muros
François Marin (François Bégaudeau) protagoniza a figura do professor de francês que tenta, sem sucesso, se aproximar dos seus alunos, muitos dos quais de origem não-francesa. Na condição de docente, ele ocupa uma posição de autoridade que não dá margem para ir além dos limites da velha relação de poder entre dominador (professor) e dominados (alunos). De modo que é inevitável assistir ao filme com uma leve sensação de que as coisas são assim mesmo e de que nada vai mudar. Aliás, não é novidade para ninguém que o sistema educacional é uma máquina pesada que faz as suas vítimas, e que os professores são aqueles que fazem as coisas acontecerem exatamente do jeito que elas devem ser, usando para isso os mecanismos de poder que tem às mãos. Em outras palavras, o muro que separa educadores de educandos parece cada vez mais intransponível.
Levando para a escola toda a sua bagagem de vida, os estudantes são retratados no filme como personagens de uma vida dura demais para se dar ao luxo de pensar em agir de maneira “educada” na escola. Filhos de imigrantes sofrem com os mais variados problemas, entre os quais está o fator ilegalidade. A falta de documentação de alguém da família agrava a constante ameaça de retorno ao país de origem. O muro entre a velha e a nova pátria insiste em ser respeitado. Basta observar uma discussão sobre futebol entre os alunos. Torcer para a França está fora de cogitação para a maioria deles, já que preferem a identificação com uma seleção africana.
Vale lembrar que todo esse tom realista do filme é fruto da própria experiência de François Bégaudeau, quem escreveu um livro sobre seu trabalho como professor numa escola. A obra cinematográfica cumpre assim o papel de documentário, sem deixar de dramatizar pequenas histórias do cotidiano escolar, em torno do qual há pessoas que têm muito pouco em comum além de muros.
Não vi, ainda, mas fico curioso. Seria possível comparar este com "Ao Mestre Com Carinho"? Guardadas as devidas proporções, é claro.