A teoria da evolução por seleção natural completou hoje 150 anos e eu me lembro do meu concílio para ordenação ao ministério pastoral a pouco mais de um ano. Uma das primeiras perguntas que recebi foi: “Você acredita que é uma criação de Deus?” Minha resposta não poderia ser outra: “Sim”. Até aí, poderia não passar de mais um candidato a assegurar um lugar divino nas discussões científicas sobre a origem das coisas, como inúmeros teólogos e cientistas conservadores o fazem. O problema é que havia na minha mesa uma Bíblia e um copo d’água. Não hesitei em matar a minha sede antes de dizer o seguinte: “Acredito como acredito neste líquido que tomei”.
Ciência e religião se complementam. Através da ciência, a gente conhece do que a água é formada. Como se sabe, a teoria científica mais aceita para isto é a tão conhecida fórmula “H2O”. Só que existe uma sensação dentro de nós que deseja, de modo imperioso, ingerir esta bebida descrita com este código científico estranho. Quando estou com sede, bebo água, não fico refletindo sobre a substância que compõe este líquido essencial à vida. Portanto, o papel da religião é ser água, não H2O.
Teoria da evolução é uma competente maneira científica e técnica de explicar o princípio de tudo o que existe. Já os relatos bíblicos da criação revelam a nossa necessidade enquanto seres humanos de acreditar que não somos obra do acaso. Nossa sede aqui é por algo que não nos faça sentir sozinhos numa terra-de-ninguém.
Os religiosos declarados, como eu, podem matar sua sede na crença de um Deus/Poder Superior que criou o universo fortuitamente, e, então, falou: “Cresçam e multipliquem!” Os religiosos não-declarados — porque todo mundo tem religião — podem matar sua sede acreditando que nunca estiveram e nem estarão desamparados no mundo, o que significa descobrir outras formas de encontrar sentido na vida, fora das fontes apresentadas pelas instituições que pregam fé.
Enfim, sedentos sempre seremos, mas matamos a sede de maneira diferente. Tenho dificuldade em acreditar que uma teoria mate a sede de alguém, do mesmo modo, que Gênesis seja um artigo acadêmico de cosmogonia capaz de descrever em detalhes o surgimento de tudo o que há.
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