17.11.08

Da salvação

Pois eu não vim julgar o mundo, mas salvar o mundo. (Jo 12,47)

Estamos salvos. Jesus nos assegura esta confiança. Afinal, ele veio aqui unicamente para nos salvar. Quem se sente salvo sempre se sentirá salvo. Não é um dia da vida, mas é eternamente. Nada pode anular esta esperança. Ele, Jesus, veio nos salvar. E nele estávamos salvos, estamos salvos, e estaremos todos os dias salvos.

É lamentável, porém, que o medo esteja aí. Se alguém está com medo, é porque está cego. É porque não quer ver a vida, preferindo fugir da realidade. Pode até querer ser religioso, mas não quer saber de deixar sua vida se transformar de modo que a cegueira do medo seja curada. Por isso, esse mal parece sem cura, sem salvação.

Salvação e cura são sinonímicas. Aliás, a palavra “saúde” vem da palavra latina “salute”, que significa “salvação”. Salvação é uma cura que Deus realiza em nós, dando-nos vida. John Wesley (1703-1791) nos ensina alguma coisa importante sobre isso. Com ele, aprendemos que salvação é a restauração total da imagem deformada de Deus em nós, e sua realização plena é a recuperação de nosso poder negativo de não pecar e nosso poder positivo de amar a Deus sobre todas as coisas.

Negatividade e positividade, pólos humanos sem contato um com o outro, mas que convivem dialeticamente, isto é, um lá e outro cá, um cá e outro lá. Volta em cena a ambigüidade. O que seríamos nós sem ela? A terapia divina respeita o lado ambíguo humano, fugindo da unilateralidade de enfatizar apenas a possibilidade de eu ser bomzinho. Ao contrário de ser perfeito, ser salvo é ser curado dia após dia. A imperfeição não passa de uma outra dentada diária no fruto edêmico. Desculpai-me, senhores, se ninguém vos avisou: nós somos humanos — se ainda lembram de Paulo: “todos pecaram e estão privados da glória de Deus.” (Rm 3,23)

Se salvação não é um processo terapêutico de cura, onde Deus está trabalhando em nós, para quê vou sair da minha casa e ir à igreja aos domingos? Só para ouvir que estou perdido? Pois bem, todos estamos, inclusive vós.

Portanto, assumir a ambigüidade é uma coragem de estar para além de si, para além das chagas sangrentas da humanidade. É se deixar curar, não com remédios patenteados pelas nossas instituições religiosas, mas com a gratuidade da vida — deram-nos a vida, para lembrar quem se esqueceu. (Paulo de novo! O versículo debaixo, senhores — “justificados por sua graça”.) Com isso, nós estamos sendo santificados por esta graça através de uma cura que quem efetua é Deus, através de seu Espírito, não nós, não nosso esforço, não as fórmulas dos nossos sacros boticários.

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