A impossibilidade da transgressão
Desde sua infância, Heathcliff é um estranho em um lugar onde estranhos não são bem-vindos. Adotado, ao entrar na família Earnshaw, ele tem problemas com Hindley, que vai desprezá-lo por causa da preferência do pai para com o pobre Heathcliff que fora trazido das ruas de Liverpool. Contudo, Heathcliff não tem identidade, porque ele não tem origem. Até mesmo seu nome não pertence a ele — vem de um filho morto da família que o adotou. Além disso, ele é fisicamente diferente das pessoas ao seu redor — ele era “escuro como se tivesse vindo do demônio”. “Satanás”, “demônio” e, mais tarde, “vampiro” são palavras que a narradora Nelly, empregada da família, usa para expressar como ele é visto.
Quanto mais Heathcliff é rejeitado mais ele quer se vingar daqueles que o fazem sofrer. Ele desaparece por um tempo e volta muito poderoso e rico. Desse modo, muda sua posição da marginalidade para a centralidade. Pouco a pouco, ele obtém poder para perseguir aquilo que mais ambiciona: Catherine.
No entanto, a ambição de Catherine se difere da ambição de Heathcliff. Ela é atraída pela ideia de ser uma lady como esposa de Edgar Linton, apesar do amor eterno que sente por Heathcliff, a quem quer proteger com essa atitude. Só que esse triângulo amoroso não funciona. Tanto Linton como Heathcliff a forçam a decidir entre um deles. Ela não decide — sua ambição não pode ser alcançada. Ela morre com tal frustração.
Para Heathcliff, este não é o fim. Ele convence o/a leitor/a de que seu amor por Cathy é possível até mesmo após a morte. Ele leva esta ideia tão a sério que quer ser enterrado junto com o corpo dela.
Esta história, portanto, desafia a sociedade vitoriana. Personagens marginais, tais como um estranho e uma mulher, agem em lugares onde não deveriam agir. Esta é uma das maiores importâncias do romance de Brontë — sua obra estava à frente de seu próprio tempo. De fato, Wuthering Heights era uma exceção até mesmo para a literatura daquele momento. Não custa nada lembrar que, de certa maneira, temos aqui uma tragédia, e tragédia significa impossibilidade. Ora, se com Aristóteles aprendemos que a tragédia imita “homens superiores”, por que não dizer que as personagens de Brontë se encontram em um nível mais elevado?
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