8.3.09

A arte tem dessas coisas

Fernando Pessoa diz que os artistas são “homens [e mulheres] de intelecto e sentimento”. São gênios. Diferente do talento, que é a inteligência concreta tornada abstrata, o gênio é justamente a inteligência abstrata e individualizada, é “a corporização concreta, temperamental e (...) de uma faculdade abstrata”. É, pois, alguém que tem intelecto e sensibilidade sem distingui-los. Pessoa cita o poeta William Wordsworth como exemplo de puro gênio, “sem aliança com o talento ou o espírito”, ressalta.

Como o que interessa são os detalhes, as sensações mínimas, passei, após ouvir Pessoa, a enxergar valor nas coisas inúteis e fúteis da vida, atento a evitar se deixar levar por aquilo que dizem ser vida. Wordsworth é um gênio por causa disso, ele estava no romantismo, mas não se deixou ser cegamente influenciado por este movimento. Aliás, isso é endêmico entre os românticos. Como constata Pessoa, o romantismo nasceu mórbido e esfacelou-se. “Desintegrou-se nos seus três elementos componentes, e cada um destes passou a ter uma vida própria, a formar corrente separada das outras.” Por isso que o “romantismo, nos seus dois processos verdadeiramente inovadores, não fez mais que reeditar o helenismo, contra a fórmula clássica, mais latina que grega”, sendo, portanto, “o continuador daquilo que a Renascença trouxe de novo — mas também de helênico — à literatura da Europa”. Foi, desde o início, um fenômeno de decadência. A arte tem dessas coisas.


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6 Comentário(s):

  • At 9 de março de 2009 às 21:04, Blogger Cleinton said…

    é, grande fanuel, a arte tem dessas coisas. se a gente deixar ela chega até a enlouquecer a gente. mas é extremamente necessária, pois, sem ela, o mundo seria muito pior. não se viveria aqui e você sabe bem disso.
    quanto ao texto sobre o gilmar mendes e o protógenes queiroz, eis que a revista (NÃO)Veja está tentando desmoralizar o delegado mais uma vez, com uma mega-reportagem dessa edição. tudo bem, vai, vindo da (NÃO)Veja vamos esperar o quê, não é mesmo?
    um abraço, amigo.
    obrigado pelas visitas e pela lucidez de teus textos.

    liberdade, beleza e Graça...
    http://cleintongael.blogspot.com

     
  • At 14 de março de 2009 às 17:04, Blogger Marlene Maravilha said…

    Sei que estás bem, e isso deixa-me feliz. E enxergar valor nas coisas inúteis e fúteis da vida, atento a evitar se deixar levar por aquilo que dizem ser vida, também é sabedoria!
    beijo grande e um final de semana cheio de alegria, paz e amor!

     
  • At 14 de março de 2009 às 22:11, Anonymous Anônimo said…

    fala professor, sou teu aluno da TAUARA
    queria te convidar pra conhecer a comunidade 2
    www.comunidade2.blogspot.com

     
  • At 14 de março de 2009 às 22:13, Blogger Unknown said…

    fala professor, sou teu aluno da TAQUARA
    queria te convidar pra conhecer a comunidade 2
    www.comunidade2.blogspot.com

     
  • At 17 de março de 2009 às 14:18, Anonymous Anônimo said…

    Felipe, em seu post "Filosofia – insegurança, poesia e inutilidade", você disse: "não queiramos encontrar utilidade para as artes" (algo assim). Aqui, você repassa a leitura de Pessoa quanto ao "romantismo" - "decadência"... Hum, não sei se entendi: como algo subjetivo (a[s] arte[s]) pode ser enquadrado sob a rubrica decadência? Há um critério? O de Pessoa? Mas - alto lá - Pessoa é critério para quê? Para si, e olhe lá, não?

    Não sei... Não estou reagindo pelo fato de, filosoficamente, ter eu abraçado aspectos do Romantismo ("assombro" e "história"). O Romantismo, nas artes, não é exatamente o Romantismo, em Epistemologia, você sabe, e eu me filio, programaticamente, apenas a esse Romantsmo epistemológico. Todavia, fico sempre curioso de ver como acontece de a gente fazer juízos sem estabelecer precisamente a base pragmática sobre a qual a dança se dá - refiro-me a Pessoa. As artes, das duas uma: ou gravitam em torno da estética, ou da política. Se da primeira, não há decadência de nenhuma espécie, nunca, em arte alguma, nem evolução - apenas, transformações. Se, contudo, política, o critério não estará na arte em si, mas na sua "utilidade" retórica: uso político da estética. Nesse caso, decadência torna-se não um conceito aplicável à arte em si, mas ele está preso à ideologia com a qual se lê o papel que ela, a arte, ocupa dentro do quadro político-cultural sob o qual ela é analisada, pelo analista político.

    Difícil a gente manter a linha reta. Não é porque é um Pessoa que se há de colher todas as orquídeas: esse juízo de Pessoa me parece prejudicado. Sumamente prejudicado. Não tem base pragmática: seja estética, seja política, não há, nunca, decadência possível aplicável à "arte".

    Mas talvez você quisesse esclarecer para nós em que sentido o romantismo é uma decadência, isto é, em termos estéticos, logo, artísticos, logo, subjetivos, para esse bom Pessoa, que, a despeito de seu (dele) juízo, não há de ser por mim considerado um decadente, decerto...

    Um abraço,

    Osvaldo Luiz Ribeiro

    PS. Mestre - já?

     
  • At 17 de março de 2009 às 22:07, Blogger Marlene Maravilha said…

    Passei para deixar um carinho cristao!
    Deus te abencoe!

     

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