3.12.08

O outro

“Para não deixar de ser si-próprio, tem que continuar a ser distinto dos outros”, proclama Fernando Pessoa. Esse “si-próprio” é o outro que há em mim. Eis que a cada um de nós está posto o desafio de perceber sensorialmente o outro dentro de si. Quanto mais tenho a noção da minha existência sensível mais o outro existe. Portanto, o outro será sempre necessário — “viver é ser outro”.

Mas esse outro inclui todos os entes, ou seja, tudo aquilo que existe sentindo-se. “Para se sentir puramente si-próprio”, explica Pessoa, “cada ente tem que estar em relação com todos, absolutamente todos, os outros entes; e com cada um deles na mais profunda das relações possíveis”.

A nossa identidade surge justamente dessa relação entre os entes. Na verdade, é a relação que provoca a identidade, ou, nas palavras pessoanas, “a esta Relação chama-se identidade”. Então, quanto mais subjetivo sou mais universal me torno.

Isso não tem nada a ver com o atual individualismo egoísta que, nos dias de hoje, leva as pessoas a se isolarem umas das outras, com as quais acabam praticando apenas uma relação instrumental. Com isso, deixam de perceber que o outro é tudo o que nelas há.

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8 Comentário(s):

  • At 3 de dezembro de 2008 às 12:26, Blogger O Tempo Passa said…

    Pois é! Coincidências?
    Mistério...

     
  • At 3 de dezembro de 2008 às 14:24, Blogger ROGÉRIO B. FERREIRA said…

    Eu quase que não entendi nada, mas do que entendi gostei.

    Lerei mais e mais vezes com mais e mais calma...

    Abrçs,

    Roger

     
  • At 4 de dezembro de 2008 às 21:10, Anonymous Anônimo said…

    Felipe,

    Seguindo (inconscientemente) o que nos diz Pessoa nesse teu post, minhas relações pessoas são as mais profundas possíveis. Talvez até pela forte influência de Jacob Levi Moreno, não "sou outro", mas vivo o outro, simultaneamente a mim, quando vivo quaisquer relações, especilamente as de amor.

    Mas, vim aqui para te dizer que deixei uma primeira e breve resposta a você lá no blog Mude. Esta:
    /// abre aspas ///

    Uma possível resposta ao Felipe, segundo comentário abaixo.

    As pessoas sobre as quais escrevo nos dois últimos textos não são personagens que criei. Existem de verdade. E o único nome fictício é "Elaine", mas ela é real.

    Detalhes em:
    http://mude.blogspot.com/2008/05.../tudo- real.html

    Abraços, flores, estrelas.

    /// fecha aspas ///


    Felipe,
    é difícil passar a síntese de uma ideologia, ou de um modo de vida, num blog. Talvez, quando eu publicar o meu livro "Nasci para Viver", eu possa ser melhor entendido.

    Mas, ressalto novamente: respeito muito os teus comentários!

    Voltarei.

     
  • At 5 de dezembro de 2008 às 09:42, Blogger Alysson Amorim said…

    "Quanto mais subjetivo sou, mais universal me torno."

    Sua frase é tão certeira quanto sucinta. Talvez esteja nela a resposta que o soturno ajudante de guarda-livros, Bernardo Soares, tanto procurava em suas andanças por Lisboa; ele afirmava ser a "liberdade a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade."

    É se afastando do outro - de uma "relação instrumental" com esse outro - que o encontraremos em nós mesmos.

    Até breve.

     
  • At 6 de dezembro de 2008 às 12:24, Blogger ROGÉRIO B. FERREIRA said…

    Felipe,

    estou te convidando para uma dessas brincadeiras (correntes) dos Blogs. Dá uma olhada lá.

    Abraços,

    Roger

     
  • At 6 de dezembro de 2008 às 19:55, Blogger Tamara Queiroz said…

    Sensorialmente, é uma delícia essa sensibilidade de noção da existência do outro ou do (eu brincaria com as palavras!) SER-SI PRÓPRIO.

    ....
    Hoje, eu acredito que o individualismo egoísta é causado pela falta de conhecimento de si próprio. Há um exemplo bem básico:

    - Pergunte a alguém sobre o capítulo anterior da novela (nó vê-la!). A resposta virá rápida!
    - Agora, pergunte a alguém sobre o seu próprio ser. A resposta não virá ou se vir fará com que o interlocutor se arrependa dela mais tarde.

    PS: Refiro-me sempre a grande maioria.

    B-joletas azuis

     
  • At 8 de dezembro de 2008 às 05:06, Blogger ROGÉRIO B. FERREIRA said…

    Primeiro parágrafo digerido: o outro que há em mim.

     
  • At 9 de dezembro de 2008 às 13:46, Blogger ROGÉRIO B. FERREIRA said…

    Agora sim entendido.

    Me fez lembrar um dos famosos livros de Bohhoeffer, Gemeinsames Leben. Onde ele com muita propriedade diz que quem não sabe viver sozinho não saberá viver em grupo e vice versa.

     

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