Sermão do Mau Ladrão (*)
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000025pdf.pdf
Si tu es Christus salvum fac temet ipsum et nos. (Lc 23,39)
I
Este sermão, que se prega nos chamados tempos pós-modernos, e não nos tempos modernos ou pré-modernos, está interessado em um tema de todos os tempos, mas que, por ser de todos os tempos, não pertence a tempo algum. E por quê? Porque o texto em que se funda o mesmo sermão não fala de uma característica que é só daquele tempo ou deste tempo, mas que sempre existiu e sempre existirá na história da humanidade. O texto descreve os dois crucificados ao lado da cruz de Jesus como “malfeitores”, como aqueles que cometeram crimes ou delitos condenáveis. Sabemos com todas as letras que eles são criminosos. Alguma coisa fizeram para estar ali na cruz. Durante parte de sua vida, estiveram dedicados à maldita arte de pegar o que não lhes pertencia. Isto é algo apenas dos tempos de Jesus e dos nossos tempos? Não. Porque a atitude desses homens lembra a atitude do primeiro dos homens, Adão. O Senhor Deus disse a Adão: “De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás.” (Gn 2,16s) Aquele fruto da árvore do conhecimento era a única coisa que não pertencia a Adão no Éden. E ele foi querer justamente experimentar daquilo que não era seu. Ele roubou da árvore que não lhe pertencia. Qual foi a conseqüência deste roubo? Ele foi expulso do Paraíso. Pagou um preço alto por isso. Adão saiu do Jardim, porque a raça humana, através de sua atitude, provou não ser digna de confiança e predisposta ao mal. Deus tirou Adão do lugar onde furtou para que ele e nós, seus descendentes, não roubássemos novamente daquela árvore que a ninguém pertence senão ao Criador. Qualis terrenus tales et terreni et qualis caelestis tales et caelestes. “Como foi o primeiro homem terreno, tais são também os demais homens terrenos”. (1 Co 15,48) Ou seja, nós somos tão ladrões como Adão, o nosso primeiro pai, foi ladrão. Se Adão roubou, todos nós roubaríamos naquele tempo, roubamos neste tempo, e roubaremos no tempo futuro.
Si tu es Christus salvum fac temet ipsum et nos. Quem está ali a dirigir essas palavras a Jesus? Não somos nós, aqueles que uma vez roubaram, hoje roubam e sempre roubarão no porvir? Esta é a lembrança que devem ter todas as pessoas de todos os tempos, sejam quais forem. Que se lembrem da sua condição de maus ladrões. Este é o assunto a respeito do qual hei de pregar. Peçamos a Graça.
* * *
[Continua]
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Muito bem sacada essa, Felipe,
gostei do início. Gostei muito.
Uma coisa porém achei que foi um pequeno deslise: Deus tirou os do paraíso não para não tocarem mais naquela árvore, mas privando-os agora da outra árvore que estava no meio do paraíso.
Aguardaremos a sequência,
fraternalmente,
Roger