Sermão do Mau Ladrão (*) — continuação
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000025pdf.pdf
III
Para que uma verdade tão grave vá assentada sobre fundamentos sólidos bíblicos, sugiro que toda a justiça que julgamos haver no mundo seja vista como impossível. Assim aprendemos de Coélet, o Pregador, cuja sabedoria o identifica com o rei Salomão. Non est enim homo iustus in terra qui faciat bonum et non peccet. “Não existe um homem tão justo sobre a terra que faça o bem sem jamais pecar”. (Ecl 7,20) Ora, se não há um que seja justo o suficiente, ninguém é melhor que ninguém. Todos, homens e mulheres, somos como Adão, condenados à tentação de roubar, de pegar aquilo que não é nosso. Deus coloca querubins vigiando o jardim do Éden, porque assim como Adão roubou da árvore do conhecimento, ele poderia roubar também da árvore da vida. (Gn 3,24) E é justamente isto que fazemos hoje, tentamos encontrar a tal árvore da vida, onde podemos descobrir as respostas para todas as nossas perguntas, o antídoto para todos os nossos males, a cura para todas as nossas doenças, a solução para todos os nossos problemas. Não percebemos que fazendo isto, estamos repetindo o ato adâmico de ter em mãos algo que só a Deus pertence, a vida em abundância.
Por isso, olhar para aquelas duas pessoas ali, ao lado da cruz de Jesus, é olhar para nós mesmos. Não há imagem melhor para descrever a humanidade: um bando de ladrões. Mas uma coisa não podemos perder de vista: Jesus está sendo crucificado no meio de ladrões. Ele identificou-se perfeitamente com os homens. Por que fez isso? Porque Jesus é “Deus conosco”. Diante dele, que unindo toda a humanidade, e nivelando a todos nós, não há quem seja melhor que ninguém. Todos estamos na condição de maus ladrões, dependentes eternamente de sua Graça e misericórdia. Não é possível a máscara religiosa da moral, porque nós ficamos nus na cruz, já que ele se fez nu. Não importa o que fiz de certo ou de errado. Todos acabaremos crucificados ao lado dele, porque é essa a nossa condição, a de ladrões.
* * *
[Continua]
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Ainda sou tentado a questionar se eram, mesmo, ladrões aqueles que estavam ao lado de Jesus. Se o próprio Jesus fora condenado erradamente, será que os demais também não o foram?
Mas o teu tema vai além, eu sei.
Fico pensando.
Quanto ao teu comentário sobre Kassab/Marta, fiz alterações significativas no texto, logo depois dele.
Abraços, flores, estrelas..