15.4.08

Gênesis 1,1s

Quando resolveram brincar de massinha, após enjoarem de ficar olhando um para a cara do outro, no auge dos tempos de descanso que qualquer ser vivo invejaria viver, fizeram o céu e a terra, ou, como deve ter dito o mais pessimista, inventaram sarna para se coçar. Nada antes, nada depois. Apenas um forte vento provocado por suas constantes nadadas nas águas. Esta era a única diversão da época. Cansaram de concorrer entre si quem chegaria mais rápido do oriente ao ocidente. Até que descobriram a hidroginástica como terapia para suas recorrentes câimbras. Era só parar, como foi observado, que o próprio movimento dos oceanos lhes curava as feridas. Gostaram tanto da atividade que dali não quiseram mais sair. Perderam, então, sua capacidade criativa, e viram um enorme abismo surgir logo ali. As trevas ficavam cada vez mais assustadoras. Ninguém suportava outro mergulho, que soava sarcástico e até leviano. Não havia outra saída senão abrir a boca até então silenciosa para pronunciar as palavras criadoras. Essa idéia de falar não agradava muito àquele persistente sentimento conservador de manter as coisas do mesmo jeito, mas no fundo o desejo de arriscar nunca foi deixado de lado, sobretudo por incitar seus instintos mais juvenis, dos quais todos sentiam saudade nesse momento de crise. Venceu a juventude, venceu a inovação, venceu a criatividade — talvez, é verdade, lá na frente alguém vá dizer: “Não falei; era melhor não ter feito tudo isso”. Todo mundo tinha consciência de que poderiam se arrepender de sua decisão, sendo julgados por si mesmos, porém nunca um tiro no pé foi tão necessário.

Marcadores:

8 Comentário(s):

Postar um comentário

<< Home