O último pedaço de panetone é compartilhado com as crianças। Aquela cesta fez milagre. Foi um presente da patroa, que, após a faxina, resolveu fazer um agrado para a pobre mãe. Pouca coisa havia ali. Só o suficiente para comer diferente no Natal. A caixa de chocolate garantiu a breve festa da criançada. O peru assado trouxe um gosto diferente do frango de domingo. As nozes e as frutas exóticas, embora não parecessem interessantes ao paladar dos filhos, serviram de petisco na hora do drinque. Satisfeito, o pai já tinha se esquecido do gosto do vinho. (Além da cachaça de cada dia depois do trabalho, ele, às vezes, experimentava uma dose de catuaba no boteco.) Sua esposa preferiu refrigerante, mas não resistiu a uma taça. O bastante para dizer “Que delícia!”. De relance, lembrou das canções ouvidas horas atrás na igreja. “Natal, Natal, é-nos nascido o rei divinal!”, cantou na memória, arremedando um coro. Não lia muito a Bíblia, mas sabia que Jesus nasceu na manjedoura, ao lado de bois e vacas, e que três magos o visitaram, seguindo uma estrela. Do jeito que estava no presépio. “Mamãe, Jesus era pobre?”, pergunta-lhe seu filho mais velho, de doze anos. Insegura, a resposta foi afirmativa. “Passou da hora de dormir. Pra cama!”, decreta a genitora. Naquela noite, tudo foi diferente. Mas, agora, era aquele último pedaço de panetone que tanto incomodava. À seguinte advertência materna, as crianças resolvem obedecer: “Coma logo, porque amanhã será pão dormido!”
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no meio do meu caminho...vejo desejar-te um feliz ano novo e que o Natal tenha sido maravilhoso...
1 beijo