21.4.09

Porque todos pecaram

Depois de ler na capa da Folha de S. Paulo hoje que o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) também se envolveu no escândalo das passagens, fiquei me perguntando se nós já nos esquecemos de nossa condição humana: ninguém é perfeito. A propósito, sugiro uma lei ao parlamentar que teve “um ou dois” bilhetes pagos por dinheiro público para uso de familiares: Que a narrativa mitológica da Queda, descrita em Gênesis, onde homem e mulher desejam a decadência, seja ensinada na escola. Lá somos todos pecadores. Ninguém se salva, mesmo que defenda o verde, a prostituta e o homossexual. Depois do Éden, estamos todos perdidos, inclusive aquele em quem votei para prefeito da Cidade Maravilhosa.


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17.4.09

Um som

Um som me atormenta todos os dias, com uma harmonia nada suave como as belles lettres. Não falo seu idioma, mas ele fala o meu. Tudo o que ele grita aos meus ouvidos é: “Escreva!”. Nada mais torturante. João Batista foi a voz e isso já é muita coisa. Escrever é ser letra. Ser letra é ser também voz. Aquele que clamou no deserto está à minha frente. E eu o respeito por isso. Ele foi a voz. Eu não sou voz nenhuma, muito menos letra. Sou um tolo. Por que? Porque quero apenas sonhar. Sonhar é uma tolice. É sair daqui, deste mundo, é ir parar nas nuvens, onde se pode contar carneirinhos. É dormir acordado. Aliás, quando li “A interpretação dos sonhos”, de Freud, durante o seminário, eu me supreendi com as conexões entre vida acordada e vida dormida. Afinal, o inconsciente não desliga quando a gente põe o pé do lado de fora da cama. Por isso, digo que vivo sonhando, vivo na tolice. Um tolo é alguém que não toma consciência das coisas. Vive inconscientemente. É aquele que jamais terá a resposta última para a pergunta “to be or not to be”, apesar de andar de mãos dadas o tempo todo com esta questão.

E aquele som não me deixa em paz. Vive me lembrando do destino de Prometeu. Cada vez que me aproximo do mistério, sinto-me culpado por chegar perto demais do fogo divino. É melhor tirar as sandalhas logo, pois o chão é sagrado. A sarça é ardente. Não quero discutir. Bem nos alerta a fé islâmica que a melhor posição diante de Deus é a submissão. Submeto, silenciando-me. O meu silêncio está na escrita. Escrevo calado. Não sou voz. Calo-me escrevendo, tal como se calava um cavaleiro medieval com sua espada. Meus dedos dão golpes nesta bendita página em branco. Depois disso, tudo o que quero é aguardar a passagem de Pégaso por aqui, de modo que eu possa ser levado para longe disso que se chama mundo. Quero morar em uma nuvem. E sinto-me levado pra lá, from time to time. Já li em algum lugar que a humanidade tem passado, ao longo de sua história, por três grandes períodos: o filosófico, o religioso e o científico. Do lado de cá da tela, eu vivo o período poético. E dele não quero sair. Anseio pela beleza de tudo o que há. Beleza que irrompe no caos, pois é divina. É uma Graça. Quando se está sentado na nuvem, tudo parece poético, en-Graça-do. Não sei por que, gente, mas isso faz sentido. Não sou só filosófico, porque não páro nas perguntas. Não sou só religioso, porque nunca estou satisfeito com as respostas. Científico eu só sou na farmácia. Perguntas, respostas e farmácia só interessam à poesia. E é nela, na Poesia, em que acredito. Aqui está minha sagrada confissão de fé: “E o Verso se fez carne e habitou entre nós.” Ainda o som.


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