28.6.08

Fator modernidade

Minha cabeça é moderna; meu coração, pós-moderno; e o resto, pré-moderno.

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21.6.08

Frase da minha mãe

“Tudo o que sai do normal no pensamento pode ser chamado de filosofia.”

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18.6.08

Teologia errática

Quero ser um teólogo do erro, do tropeço. Adão, o primeiro humano, não acertou: ele deixou o mundo dos certinhos para trás quando se deliciou do não-deliciável. Se há uma possibilidade de dialogar com o theos que se irrompe na transgressão e subversão, sinto-me teologando no interlúdio, na fissura, do choque entre o sagrado e o profano. Quererei mais ausência que presença, imanência que transcendência, finitude que infinitude, incerteza que certeza, dúvida que conclusão, pergunta que resposta, hipótese que teoria, provisoriedade que definitividade, poesia que ciência, fé que religião, esperança que verdade, paixão que compromisso, amor que crença, abismo que fundamento... E por aí a gente vai errando. Afinal, toda teologia é errada, já que o theos nunca pode ser logado.

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10.6.08

A ética cristã

Entender a ética cristã a partir de atos de juízo e coerção em nome de leis morais é um caminho perigoso, que leva ao ultraconservadorismo formador de uma consciência fundamentalista dentro das igrejas. Antes, é preciso atenção cada vez maior à simplicidade, à pobreza, à humildade e ao engajamento coletivo, buscando uma sensibilidade por meio da qual se é possível alcançar uma renovada visão ética que alcance a humanidade como um todo, porque visa a dar muito mais que receber. Neste sentido, a fé está para além das pretensas certezas religiosas, de enquadrar o mundo inteiro em um sistema de valores hegemônicos, como se a vida se resumisse a fazer isso ou aquilo. Sabemos que nenhum de nós é capaz de garantir a si mesmo, senão o símbolo maior da Graça divina, que viveu amando e amou vivendo. Somente ele, Jesus, tornou-se um referencial humano por causa da radicalidade ética de seu compromisso com o amor expressa na cruz, onde ele se doou em prol de outros.

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1.6.08

Primeiramente, João

Chamam-me João, só que, a essa altura, o nome não tem importância alguma. Os pés estão grudados no chão. Não dá para levantar o calcanhar. A canela, dura, sustenta os dez quilos que parecem ter cada um dos meus joelhos. Sentindo os braços soltos, resigno-me a levar as mãos aos olhos para espremê-las contra a face, e, após um suspiro capaz de retrair toda aquela parte da cintura ao pescoço, dizer: “Eu só quero não ficar parado.” Ainda não consigo entender por que a cabeça está inchada. Já perguntei a mim mesmo, várias vezes, se o problema não está na sustentação do crânio. A resposta é sempre dúbia e incerta. “Ora, a causa é aquilo que sai, não que entra!”, exclamo após concluir que antes de falar a gente alimenta o corpo. Lembrei então dos livros que comi antes de ser a voz. De sagradas letras não me esquecerei jamais. O ar aqui no deserto me derrete por dentro e por fora, mas a digestão dos rolos proféticos insiste em delongar. Grito debaixo do sol, com o corpo petrificado, porque Isaías tem sido a minha refeição. Nunca sei se quem diz sou eu ou ele. Ontem tive certeza que aquele oráculo me mandou seguir adiante, quando os meus tímpanos ouviram as seguintes palavras: “Voz gritante, construa estradas para alguém passar!” Nesse exato momento, vi águas cristalinas, que, escorridas em meu corpo, molhavam pessoas que neste mundo antes não conheci. De mim saía uma nascente que formava um riacho a perder de vista em todo o horizonte seco. Lá estava tudo o que busco, o caminho para me direcionar nesta terra-de-ninguém, capaz de dar sentido a tudo isso. Porém, o passo não foi dado. Deve ser porque meu nome é João.

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